Aeromodelismo: Perca peso agora, pergunte-me como.

 Nesta realidade actual à beira de um ataque de nervos por causa dos drones, lembrei-me de ir para um parque público brincar com um aeromodelo.

Sem meter os pés num aeródromo há quase seis meses por causa desta pandemia, e tendo acabado de escrever a minha primeira peça de teatro em língua inglesa, fui atacado por um tédio medonho.

Ao arrumar umas caixas no sótão, descobri entre os enfeites de Natal e umas malas de viagem, um pequeno Cessna de esferovite telecomandado que há anos que não brincava com ele. Abri o controle remoto esperando uma massa verde de pilhas estragadas, mas estava vazio. Rapidamente, percebi que isto podia ser uma excelente desculpa para arrancar os miúdos do universo online e arrastá-los para fora de casa.

Com suspiros agastados, andámos a pé cerca de 1 Km até ao imenso parque público no limite urbano do bairro. Um parque enorme onde passeiam cães e crianças, com um vasto campo de Futebol.  Enfolado em arco, convencido da minha destreza de outrora, imaginei vôos suaves e duradouros até as pilhas se acabarem. Os miúdos, afastaram-se para uma distância segura para poderem apreciar um “piloto” a operar com mestria esta arte obscura que é o controle de um artefacto voador. Um senhor a passear um cão deteve-se por momentos, na esperança de ver um festival dos Red Arrows só para sí mesmo ao pé de casa. O meu momento de glória tinha chegado.

Mas precisava de alguém para me lançar o aparelho no Ar, porque a relva do parque não permitia efectuar uma descolagem. Lembrei-me do fiasco daquele vídeo do operador militar todo vestido de preto que parecia um ninja e em plena apresentação para a imprensa, atirou o drone para dentro de água. Se aquele zorro militar não conseguiu a façanha com um aparelho de milhares de Euros, será que eu iria ter sucesso com um Cessna de esferovite? Felizmente conseguímos lançar o pequeno Cessna à primeira, que voou como uma traça embriagada antes de caír uns metros mais á frente. O segundo vôo teve o mesmo desfecho, assim como o terceiro.

Após várias tentativas, que obrigavam a uma caminhada para fazer uma operação de resgate, o senhor do cão foi-se embora. Foi apenas quando comecei a suar de tanto andar para apanhar o avião, e de os miúdos desistirem de tentar porque “era muito difícil”, que comecei a conseguir controlar de novo o pequeno aparelho. Após quase meia-hora de andar a correr para o apanhar antes dos câes o começarem a morder, já conseguia descrever um círculo quase perfeito em meu redor. Mas uma falha de comunicação lá aparecia e novamente o pequeno aeromodelo efectuava uma aterragem de emergência na selva.

Numa destas “emergências”, com o perigosíssimo aparelho seguro nas minhas mãos com o motor desligado um senhor muito preocupado com a cidadania, resolveu abordar-me. Vinha a passear um cão.

Você sabe que não é permitido operar drones em espaços públicos?

“Sei!”

E então porque é que está a brincar com esse drone?

Sempre me disseram que se respondermos a um ignorante, então seremos dois ignorantes a falar. Antes de continuar a conversa, mostrei-lhe a imagem de um drone no telemóvel.

Está a ver? Isto é um drone. O que eu estou a operar é um aeromodelo.

Não interessa. Tem uma hélice e é perigoso. Além disso você não tem destreza nenhuma, está sempre a deixar caír o aparelho!

Neste aspecto, realmente não podia contradizer o homem. Ele tinha razão. Pelo sim pelo não, e coberto de ignomínia, achei melhor nem sequer lhe dizer que eu era piloto de ultraleves.

“…e para operar estas coisas, agora é preciso uma licença! “- continuou o aprendiz de polícia.

Na verdade, ele tinha razão. Mas a licença, e a consequente proibição camarária de operar drones em espaços públicos de acordo com a actual legislação no Reino Unido, abrange apenas aparelhos que pesem mais de 250 gramas. O meu Cessna de esferovite com dois palmos de envergadura pesa 85. Já comi sandes mais pesadas do que este aeromodelo. Até as meias que trago calçadas pesam mais.

Estou perfeitamente legal. Repito: Estou perfeitamente legal!

Mas para explicar isto aquele cidadão preocupado com a segurança, seria complicado. Mesmo que lhe dissesse que me encontrava no centro de um campo de futebol, sem rigorosamente ninguém à volta, e que ele demorou quase três minutos para chegar ao pé de mim, compreendi que nesta actualidade onde toda a gente quer ser polícia uns dos outros, não tardava muito teria um video meu nas redes sociais com um título “olhem-só-este-idiota-a-pôr-em-perigo-toda-a-gente.”

São situações que não podemos ganhar, nesta actualidade onde todos andam com os nervos em franja, e onde todos temos de reaprender tudo o que julgávamos que sabíamos. Como se diz na tropa, fiz então uma retirada estratégica, para reagrupar. Além disso a bateria já estava a ficar fraca!!

A conclusão disto tudo, é que, a brincar a brincar, somando a caminhada de ida e volta para o parque e as corridas para ir apanhar o avião, o telemóvel mostrava-me que tinha percorrido três quilómetros e queimado uma quantidade de calorias!!  E rimos a apanhámos ar fresco durante quase duas horas!!!

No dia seguinte fui para o parque outra vez. O gajo do cão não apareceu!

Mike Silva. Agosto de 2020. Fotografias meramente ilustrativas retiradas da web sem referências autorais.

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