Força Aérea Portuguesa década 70 do sec XX
Continuação de Take Three..
Depois desta experiência, o regresso a uma vida normal, ir à escola e viver em casa dos meus Pais, foi muito difícil. Tudo começou a correr mal, lá consegui concluir o 6º e 7º ano e retornei à minha ideia da dita paixão.
Assim como os maus pais não tinham hipótese de me colocarem num curso de pilotagem ou de engenharia aeronáutica, na altura em Inglaterra é que existiam os melhores e mais recomendados, a escolha era só uma, tentar a Força Aérea Portuguesa.
Estava na altura de fazer o serviço militar, dado que como não estava em estudos universitários, a solução era tentar cumprir este serviço, mas com um contrato de trabalho para voluntários de 2 a 3 anos, o chamado dois em um.
Fui fazer os testes e qual o meu espanto, disseram que com o pé chato e uma muito ligeira escoliose, não havia hipótese de passar nos testes para piloto da FAP. Velhos tempos, um grandessíssimo azar, hoje em dia quase toda a gente sofre dessas pequenas maleitas e não é por isso que não entra.

Depois do impacto do sonho desfeito, passei para um plano B, se não posso guiá-los vou arranjá-los! Concorri aos testes para Cabo Especialista MMA – Mecânico de Material Aéreo e fui aceite com o Nº 029285-A-1 CAB MMA -2ª.Esquadrilha -1º.Pelotão na Base da Ota.
Estávamos nos anos pós-revolução 1976- 1977 e assim lá fui fazer a recruta na Base Aérea da OTA, infelizmente dada por páraquedistas, que tinham acabado de vir do Ultramar, conclusão foi terrível, mas lá cumpri.
Eram outros tempos e lembro-me dos meus passeios nocturnos de Cessna Push Pull a Lisboa para beber um copo na Base do Aeroporto, onde nessa época estavam ainda estacionados os belos DC-6, que eram uma delícia para purgar, cada vez que lá ia, punha a minha carrinha 2CV por baixo e lá ficava com o 2CV mais rápido da pradaria !

Havia uma hora todos os dias, que literalmente parava a Guerra, os aviões não voavam e toda a gente desde o general ao faxina e à messe ver a telenovela Escrava Isaura !
Em termos revolucionários, tivemos uma acção de facto com algum impacto, a comida piorava dia para dia e houve uma 6ª Feira que o Capitão deu ordem que ninguém podia sair da Base e ir passar o fim de semana com a família. Aí ficámos muito chateados com a sua prepotência e dar esta ordem sem qualquer fim em vista, para além de chatear toda a gente era preciso fazer alguma coisa.
Reunimos alguns dos chefes de pelotão, votámos tipo “Bora Lá” e decidimos literalmente tomar a Base !

Assim mandámos todos os pelotões formarem na praça, (sem oficiais ou sargentos que andavam nas suas vidas) abrimos a armaria, retirámos o armamento na altura a famosa G3, distribuímos as armas e dirigimos toda a esquadrilha, estamos a falar de centenas de homens armados formados por pelotões a marchar (na forma de fazer muito barulho) e
dirigimo-nos às instalações onde trabalhava o Capitão de Dia e o Comandante da Base. Foi absolutamente hilariante, fugiram todos de qualquer maneira, pelas janelas à civil, fardados .. ficámos tão impressionados pela facilidade daquilo tudo, que deixou de ter piada, fomos entregar as armas, desfardar, calmamente e pacificamente fomos para casa ter com as nossas famílias.

Quando regressámos na 2ª Feira absolutamente nada aconteceu. Como aquilo não podia nunca acontecer, os oficiais e o comandante da Base decidiram “desacontecer” uma palavra inexistente, mas muito parecida com o angolano desconseguir ! (que é uma palavra maravilhosa, não existente no dicionário mas explica tudo quando não há explicação).
O curso demorou cerca de 1 ano e de facto era na época um dos melhores cursos para quem se quisesse especializar em manutenção de aeronaves, aprendi muito nessa época. Um aparte, o meu motor de aprendizagem foi o Merlin do Spitfire.

O meu avião para teste de ponto fixo era o T-6e o Sabre F86. Também o Lockheed A28 Hudson era utilizado. Para mim era a História da aviação ao Vivo !

Acabei a recruta na Base da Ota e fui destacado depois dos exames, para a Base Aérea do Montijo, como Mecânico MMA para a nova esquadra 501, muito recentemente criada com os então novos Hercules C-130H.

Aqui estive cerca de 1 ano a trabalhar nas secções de motores e Biblioteca Técnica e Controlo de Qualidade. Foi uma experiencia boa, na minha formação aeronáutica e onde me foi permitido voar inúmeras vezes no Hercules C-130 e no Helicóptero Alluette IIIc. Para além destes aparelhos estavam estacionados nesta Base a Esquadrilha Fiat G91 e no fim do meu tempo os Helicópteros Puma.
Nesta época os americanos tinham destacado no nosso esquadrão, vários especialistas engenheiros, que nos passavam a informação e ensinavam alguns dos procedimentos de manutenção dos novos aviões e motores, com quem muito convivi (nessa altura pouca gente sabia inglês à séria).

Cerca de 1979, acabou o meu contrato com a FAP e decidi não continuar, dado que sem curso superior, iria ser difícil ascender ao oficialato, que na altura pagava razoavelmente bem. Mas antes de passar à disponibilidade da Força Aérea, assisti e participei em manobras militares que envolveram a FAP, a Força Aérea Alemã e a US Air force e estive ao vivo com alguns dos aviões mais representativos dessa época, de que destaco:
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A continuar
David Ferreira
13/09/2015