Desde que me interessei por aprender a voar um avião, que uma das primeiras coisas que comecei a ouvir e a ler, foi de que o ideal, seria ter apenas e um só instrutor, do início ao fim do curso. Numa situação ideal, chegaríamos ao aeródromo, prenchíamos uns papéis e uns formulários, e alguém chegaria ao pé de nós e nos apresentaria um instrutor. “ .. Sôr Silva, este amigo aqui vai ser o seu instrutor…” . Pelo menos era assim que os meus amigos que já tinham a licença de pilotagem me contavam que tinha sido com eles.
Isto trouxe-me algum nervosismo no início da instrução: Pois nada se estava a passar de acordo com o que eu tinha ouvido e lido, e me tinha sido aconselhado. De cada vez que chegava ao aeródromo para iniciar uma lição, lá estava “um instrutor qualquer”. Um instrutor que nem o nome sabia. Mick, o dono do aeródromo e CFI da escola, perante a minha chegada e o atraso do instrutor de serviço naquele dia, olhava para o relógio e dizia-me – “Bom, ele não vem, então vamos os dois voar…Deixa cá ver o teu registo de aluno e ver em que ponto da instrução estás…”
Tudo me parecia feito em cima do joelho e pior, à custa do meu suado dinheiro. Parecia mesmo, que não estava a fazer progresso nenhum! As horas acumulavam-se, bem como os nomes dos instrutores no meu logbook. Mas aos poucos descobri que estava enganado e a enervar-me sem motivo: Em termos de assimilação de conhecimentos, as matérias iam sendo apresentadas de uma forma coerente, e todos cumpriam rigorosamente o “Syllabus”, procedendo do mesmo modo como uma engrenagem bem oleada. Sem dúvida, cada um tinha o seu cunho pessoal, mais técnico ou mais descontraído. Mais rigoroso ou menos tolerante. Mais sisudo ou mais suave. Sandie, a minha instrutora com quem fiz grande parte do meu curso, tinha uma determinação e uma confiança nos seus movimentos, capaz de envergonhar um piloto de um caça. Tinha trabalhado a rebocar planadores, e tinha voado até à Noruega sozinha sobre o Mar do Norte. Isto ao mesmo tempo que era Engenheira Bioquímica na Universidade de Nottingham, trabalhando com vírus em laboratório. O senhor Barnett, tinha tirado o curso na RAF onde tinha sido “obrigado “fazer solo com apenas oito horas num British Bulldog. Tornou-se então instrutor de moto-planadores até passar à disponibilidade. Detentor de um conhecimento capaz de envergonhar uma enciclopédia, sempre a encher o quadro com riscos e esquemas, em cada Briefing que antecede o vôo. E muito brincalhão na sua abordagem ao aluno. O senhor Price, tinha sido Polícia, e ajudado a lançar uma escola de ultraleves perto de Katmandu no Nepal. Voar de pendular sobre os Himalaias era um dia normal de trabalho para ele. Sem dúvida o mais metódico, Mick piloto pioneiro de ultraleves desde os anos 80 e o CFI da escola, cobria os tempos mortos quando os outros não estavam, e ajudava-me nas aulas teóricas e com a navegação em carta. Todos eles, foram capazes de me transmitir de uma forma sólida e inesquecível alguns ensinamentos cruciais. Todos eles foram uma mais-valia para me tornar um piloto com conhecimentos sólidos, capaz de conduzir uma operação segura de uma aeronave. Todos eles me falharam o motor à descolagem vezes sem conta, e me obrigaram a aterrar com vento cruzado em pistas inapropriadas. E em campos cultivados. Simularam fogos e avarias a bordo. Abortaram descolagens porque estava um aparelho a sobrevoar o aeródromo. Desligaram o motor porque as rotações caíam mais de 100 RPM e voltaram para trás. A minha mentalidade tinha mudado: Nunca poderia supor que a multiplicidade de instrutores me trouxesse um manancial de informação tão grande. Agora, em vez de estar” nervoso” e me sentir “diferente” por não ter apenas um instrutor, eu estava feliz por ter a oportunidade de ter tanto conhecimento a jorrar como uma torneira em cima de mim. E eu estava a apanhar esse conhecimento com um balde! Com vários baldes!
Lembro-me que a aproximação do solo, na aterragem, a uma velocidade que nos parece cada vez maior, (chamado na gíria por “Ground Rush”) foi um problema que me estava a atrapalhar a progressão na aprendizagem. Mick, o Chefe–instrutor com o qual eu não me sentia muito à vontade no início, apertou-me o ombro após uma aterragem atabalhoada e disse através do intercomunicador: “Olha: Mesmo que não fizesses rigorosamente nada, o avião iria de encontro ao solo e “bum”… saltaria de novo. Seria uma aterragem dura sem dúvida, o avião depois saltaria, mas é só!… Não tenhas medo de espalhares-te ao comprido. Quando estiveres para entrar na final, olha para o fim da pista, e não para o início…Vamos embora. Descola outra vez… “ Após esta dica, de um instrutor com o qual “ não me sentia á vontade”, a minha abordagem às aterragens mudou completamente! Algo que eu não estava a conseguir, com um ou outro instrutor com o qual eu me sentia “confortável e á vontade”. As lições continuaram meses e meses fora, e comecei lentamente a perceber-me da mais-valia que é o facto de ter múltiplos instrutores. A quantidade e o manancial de informação que uma vez assimilado me permite uma operação segura de uma aeronave tem sido inestimável. Na minha opinião, ter apenas um instrutor pode ser bom, mas vários permitem-nos comparar a informação e receber estímulos diferentes. A ideia pré-concebida de que devemos ter “apenas um instrutor”, pode ser útil e verdadeira , mas sem dúvida não é universal…
Mike Silva