De quem é o Espaço Aéreo?

Com a publicação no ano passado pela EASA das regras de operação pan-europeias sobre circulação de drones e com a criação do lucrativo e concorrido espaço U, o já de si debilitado sector aeronáutico, prepara-se para mais uma vez entrar num braço-de-ferro, onde obrigatoriamente será o dinheiro que como sempre, sairá vencedor.

Quando há cerca de dez anos escrevi pela primeira vez sobre os drones e o seu impacto no nosso dia-a-dia, estava longe de imaginar a rapidez com que este tipo de aparelho iria evoluir , se diversificar, e gerar tão grande burburinho legal e legislativo em torno da sua operação.

Não nos enganemos: graças ao seu apetecível e baixo custo de operação, o drone veio para ficar.

Nesta actualidade pandémica em que vivemos, a explosão das entregas ao domicílio mostrou um novo mundo até então desconhecido para muita gente. Carregar num botão e trazerem-lhe a casa uns calções de banho ou um livro, era algo que antes da pandemia pouca gente tinha ainda experimentado. O consumismo e o comodismo fizeram o resto e agora não há volta a dar. As pessoas querem cada vez mais e mais, a baixo preço e rapidamente. Mesmo as carrinhas e motorizadas que fazem as entregas não conseguirão competir com o preço de operação de um drone. Uma entrega que custe 5 euros numa carrinha, feita por um drone custará 50 cêntimos e demorará uma fracção do tempo. Para uma organização será mais lucro, mais facturação, menos manutenção, menos tempo perdido e menos despesa. Mas também menos empregos e a curto prazo inevitavelmente menos consumidores. Mas isto é outra conversa.

Obviamente o espaço aéreo onde estes equipamentos irão operar tornou-se desde cedo uma preocupação crucial em termos de Segurança.

No processo de estudo, as autoridades descobriram que este podia também ser vendido a preços exorbitantes a quem desse mais. Por exemplo em Inglaterra, país onde resido, uma publicação obscura chamada CAP 722C (Unmanned Aircraft Restrictions Guidance and Policy) publicada há poucos meses, refere-se ao espaço aéreo como um “ bem do Estado” que pode ser comercializado.  Portanto é de assumir que já estão a ruminar maneira de facturar com o espaço aéreo vendendo-o a operadores de drones. E obviamente quem irá comercializar e fiscalizar este “bem” serão as autoridades aeronáuticas civis.

Especulando um pouco e arriscando a fazer Futurologia, não é preciso grande imaginação para perceber que estes operadores que vão pagar principescamente por este espaço aéreo irão querer contrapartidas em troca. Não vão querer por exemplo ninguém a atrapalhar e a chocar com os seus drones. Vão querer um espaço dedicado e geo-fencing.  E os políticos já estão a esfregar as mãos com esta mina de Ouro. Com esta oportunidade de fazerem dinheiro, literalmente, do Ar.  É fácil de ver quem ganhará o braço de ferro entre um proprietário de um avião ligeiro que pague apenas centenas, ou quanto muito milhares de Euros por ano para voar, e uma empresa que pague milhões. E para bom entendedor meia palavra basta.

Mike Silva. Abril de 2021. Fotografias meramente ilustrativas @ UNSPLASH, Goh Rhy Yan e Ivan Bandura. Imagens, excertos de exemplos de actividade UAS/Drones 28 de abril de 2021.

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