Com o título em epígrafe apresentou o “Suplemento de Domingo” do Diário de Notícias de 30 de Outubro findo, e pelo punho de Luísa Manoel Vilhena, uma entrevista com Isabel Manuela Bandeira de Mello Rilvas – a “nossa” Isabelinha, tão querida de todos nós e cuja convivência, ao longo das décadas dos anos 50 e 60, tanto procurávamos e apreciávamos.
Pela oportunidade do tema desenvolvido, aos mais novos (que, porventura, nos lerem) apontamos o exemplo ímpar de Dona Isabel Rilvas, que se define, aliás, por um inquebrantável “querer” – único meio que pode tornar realidade o objectivo a alcançar: o domínio do Espaço.
Actualmente (à data da entevista) embaixatriz de Portugal em Washington, Isabel Rilvas é, contudo, mais conhecida como diplomata sobretudo pela forma como tem procurado apoiar desde sempre a acção de seu marido, Leonardo Mathias.
Com 23 anos de carreira, distribuídos anos pelos seis postos que o seu marido ocupou (Cidade do Cabo, Madrid, Genebra, Roma, Bagdade e Nova Iorque), Isabel adquiriu uma longa experiência quanto aos problemas que têm de enfrentar as mulheres dos diplomatas – o que a levou a criar a “Associação das Mulheres dos Diplomatas Portugueses“. Mas é sobretudo acerca das suas experiências no ar que esta conversa incidiu…
Luísa Vilhena – Sabemos que a Isabel foi, desde muito cedo, atraída pela fascinação da aeronáutica e tem sido uma das raras mulheres portuguesas para quem voar é uma atracção apaixonante. Porque terá surgido em si esse desejo pouco vulgar e tão determinado, tendo a Isabel sido educada num meio tradicional?
Isabel Rilvas – Eu quis desde sempre fazer qualquer coisa diferente.
Luísa – Mas porquê voar?
Isabel – Penso que esse meu desejo tinha duas origens: uma física, outra espiritual. Eu era frágil, estava sempre doente, toda a família tomava muitas cautelas comigo…Chamavam-me o aranhiço. Por causa de uma operação que fiz a um pé, estive vários meses numa cadeira de rodas. Creio que esta fragilidade, que durante tantos anos me limitou, foi desenvolvendo em mim um grande desejo de evasão, de libertação. E para mim tudo isso se concretizava em voar. Esta é a origem física. Por outro lado, havia nesse tempo um forte movimento de acção católica que eu vivi com grande entusiasmo, uma grande alegria, muito, muito ideal. Não sei se fará sentido dizer que tudo isso me puxava «para cima», o que ia ao encontro do meu desejo de voar.
Luísa – Quis então ser piloto por espírito de misticismo e por desejo de superação?
Isabel – Talvez. Não sei. Digamos antes que eu queria voar em sentido real e espiritual. Um pouco como lemos no livro “Fernão Capelo Gaivota” – lembra-se? “Porquê, Fernão, porquê? – perguntava lhe a mãe. – Porque é que te custa tanto ser como o resto do bando? Porque não deixas os voos altos para o pelicano e para o albatroz? Porque não comes? Filho, tu estás penas e osso!” Comigo também falavam assim. E eu era também pele e osso, com 1,60 m e 46 quilos, e também queria voar alto, como o Fernão Capelo Gaivota.
Luísa – Quando começou então a voar?
Isabel – Comecei a minha instrução, como piloto-aviador numa sexta-feira, 13 de Agosto de 1953, na Escola de Aviação Civil do Aero Club de Portugal, em Sintra.
Luísa – É uma data curiosa, que poucos escolheriam. Não tem superstições?
Isabel – Não tenho. E muito menos com o dia 13, que foi a data escolhida por Nossa Senhora para aparecer em Fátima.
Luísa – Que idade tinha nessa altura?
Isabel – Tinha 18 anos.
Luísa – Os seus pais não se opuseram?
Isabel – Não. Eu fui-lhes sempre dizendo o que ia fazer: que ia à inspecção médica, que me ia inscrever como sócia no Aero Club de Portugal, que estava a tratar dos papéis necessários… Quando eu chegava sentiu com os resultados, mostravam-se um pouco admirados e diziam: «Então conseguiste? Muito bem». Talvez achassem que eu acabaria por desistir ou que não me aceitassem. Ou não queriam dar-me o desgosto de contrariarem o meu sonho. A certa altura preveni-os de que no dia seguinte começava a minha instrução. E o meu pai respondeu, sem comentários, que não queria que eu fosse sozinha, mas que ele me acompanhava para verificar como era, em que condições ia voar. Fui com o meu pai nesse dia e todos pensaram que seria ele quem ia tirar o «brevet». Eu era franzina, com meias uma curtas e rabo de cavalo, o que me fazia parecer ainda mais nova. Depois disseram-me que quando me viram entrar para o avião pensavam, «Que anda a fazer a miúda?» Voava sempre acompanhada por uma senhora, porque os meus pais achavam que eu não devia chegar sozinha a campos de aviação onde em geral só estavam homens. Eram outros tempos.
Luísa – Quanto tempo levou a tirar o «brevet»?
Isabel – Bastante. As lições foram interrompidas no Inverno. Entretanto, surgiu nova legislação que obrigava os pilotos civis a um importante exame teórico, que me fez estudar muito. E não queriam que eu fosse largada com poucas horas de treino. Nunca fui aquele tipo de pessoa de chegar, ver e vencer. Eu consigo chegar onde quero por perseverança, por força de vontade. Exijo de mim própria uma grande disciplina. No campo da aeronáutica, sempre me treinei com muita regularidade, a repetir, a repetir até acertar.
Luísa – Como foi a sensação de voar sozinha?
Isabel – Uma sensação de libertação. Tinha finalmente conseguido o meu sonho. Mas estranhei, é claro, a falta do instrutor, tanto mais que o avião em que tirei o «brevet» era um biplano aberto, onde o instrutor vai no lugar da frente. Há, portanto, uma distribuição de peso que fica completamente alterada quando se voa sozinha. Tive a impressão desagradável de que o avião ia com o nariz no ar, o que me abrigou logo a compensar. Foi o meu primeiro contacto com experiências novas que teria de resolver por minha conta.
Luísa – Quando teve de levantar voo sozinha, e sobretudo de aterrar sozinha, não sentiu medo?
Isabel – Acho que senti algum. Mas a alegria foi muito maior que o medo. E dali em diante cada voo era um novo desafio que eu fazia a mim mesma e à minha capacidade de me ir aperfeiçoando, de me ir identificando com o avião.
Luísa – Havia já nesse tempo, em Portugal, outras mulheres que tivessem «brevet»?
Isabel – Houve várias, mas na minha época pelo menos duas: uma senhora de Angola, Alzira do Nascimento e Maria Amélia de Lemos, irmã da escritora Ester de Lemos, por quem tenho a maior admiração.
Luísa – Em que data tirou o seu«brevet»
Isabel – Em 24 de Agosto de 1954. Tenho uma boa recordação desse dia.
Luísa – E que utilização deu a Isabel ao seu «brevet»?
Isabel – No principio limitava-me a voar, a treinar. Depois comecei a entrar em provas e a participar em festivais. Em 24 de Setembro de 1955 entrei no Festival Aeronáutico da Figueira da Foz, classificando-me em 3º lugar na prova de acrobacia que aérea.
Luísa – Já fazia então acrobacia?
Isabel – Em 7 de Junho de 1956 tomei parte na primeira Volta Aérea a Portugal, desclassificando-me por avaria mecânica, que que obrigou à substituição da hélice. Em 25 de Setembro de 1957 entrei novamente no Festival Aeronáutico da Figueira da Foz, onde obtive o segundo lugar na prova de lançamento da mensagem e uma taça por participação numa prova livre de acrobacia aérea. Em 15 de Novembro de 1958, no Festival Aéreo do Outono, em Sintra, ganhei o primeiro lugar na classificação geral e o primeiro na aterragem de precisão.
Luísa – Havia outras participantes femininas nessas provas?
Isabel – Não. No primeiro campeonato nacional de acrobacia aérea, em Sintra, a 26 de Junho de 1958, era eu a única mulher. Obtive o segundo lugar. A minha experiência, nesse tempo, reduzia-se a 260 horas de voo.
Luísa – Entrou noutras provas?
Isabel – No festival do fim de ano, em 1960, obtive o primeiro prémio em avaliação de distâncias e também o primeiro no lançamento de mensagens.
Luísa – Que tipos de aviões pilotou?
Isabel – Os aviões daquele tempo: «Tiger», «Club» «Piper», «Navion» de 185 cavalos, «Super-Cruiser», «Colt», etc.
Luísa – Mantém ainda hoje a sua licença?
Isabel – Não. Tive-a sempre válida entre 1954 e 1977 – data em que a perdi por motivos que nada têm a ver com aviação. Mas além da licença portuguesa, obtive várias outras. Tive licença espanhola entre 1964 e 1966, entre Janeiro de 1975 e Agosto de 1976 tive licença italiana. Em 1981 obtive licença americana, em New Jersey. E já em Março de 1962 tinha obtido licença sul-africana. Mas, qualquer licença, para se manter válida, tem que ser alimentada com um certo número de horas de voo realizadas nos próprios países, o que só me era possível fazer enquanto lá vivia.
Luísa – Continuou portanto a voar, não obstante o seu casamento, o nascimento dos seus filhos, a carreira diplomática do seu marido?
Isabel – O meu marido não objectou às minhas actividades aeronáuticas. Compreendeu o meu entusiasmo. Deu-me apoio. Foi até mais longe, porque ele próprio tirou também o «brevet» de piloto quando estávamos noivos e o de pára-quedista dez anos mais tarde.
Luísa – E utilizou estes «brevets»?
Isabel – Muito pouco. Acho que foi apenas uma forma de me demonstrar que também era capaz.
Luísa – Ou um gesto de amor?
Isabel – O Leonardo não é romântico. É pragmático.
Luísa – Qual foi, dentre as actividades aeronáuticas que praticou, a que permitiu alcançar mais plenitude?
Isabel – A acrobacia aérea. O domínio da máquina, obtendo dela a melhor «performance», deu-me uma sensação de perfeita unidade piloto-avião com um sabor apaixonante que nunca consegui igualar. Talvez eu tivesse uma aptidão especial para a acrobacia. Ou seria por eu pesar tão pouco? Os meus pés não chegavam aos pedais do avião, tinham que me por almofadas… Ou talvez, até, por ter tão pouca força física: pilotado por mim o avião tinha reacções quase autónomas, realizando assim melhor o projecto do seu construtor e as manobras para que tinha sido concebi do. Não sei. A verdade é que ele aceitava as figuras acrobáticas, apenas corrigidas aqui ou ali. Pedia tudo ao avião e dava-lhe até ao limite das minhas forças, o que me provocava às vezes até fortes dores físicas quando, excepcionalmente, a atitude do avião se tornava incorrecta.
Luísa – Acrobacia experimental é um desporto arriscado… Não eram muito imprudentes essas suas experiências sem professor?
Isabel – Não acho que acrobacia seja mais perigosa do que muitas outras coisas menos interessantes. Eu lia livros, fazia perguntas a pilotos militares consagrados, estudava mecânica, tinha contacto directo com os motores dos aviões.
Luísa – Além de ser piloto, fez também voo sem motor e foi pára-quedista, não é verdade?
Isabel – Exactamente. Em outubro de 1955 obtive o «brevet» de voo à vela, com o nº 81, em Alverca. Fui a segunda mulher portuguesa a obter esse «brevet».
Luísa – Também se dedicou muito ao voo à vela?
Isabel – Não. A 2 de Junho de 1960, em Alverca, bati o recorde nacional de permanência no ar, com 11 horas e 15 minutos. Andava lá por cima, numa ascendente sobre a Base, e estava-me a sentir bem. Eram mais que horas de almoço. O Sr. Manuel gritava lá para cima que descesse, porque já era muito tarde. Depois, o instrutor escreveu no registo de voo: «A Isabel fez 11 horas e 15 minutos»
Luísa – Deixou então o voo à vela e regressou ao voo com motor. Voltou a ocupar-se com acrobacia, competições e festivais?
Isabel – Eu tinha entrado numa fase em que desejava dar uma feição útil e social ao meu amor pela aeronáutica. Com os conhecimentos que tinha, foi-me possível fazer um estudo quanto à possibilidade de uma certa cobertura da área de Trás-os-Montes, que era nesse tempo uma região ainda muito isolada, com aldeias dificilmente acessíveis, onde havia grande mortalidade infantil. Pretendia eu, com o auxílio de assistentes sociais transportadas por mim a regiões mais abandonadas, fazer campanhas de vacinação, educação de futuras mães, alimentação adequada dos filhos, higiene e auxilio à terceira idade. Apresentado o projecto, na Aeronáutica Civil, para autorização de aterragens em campos particulares e areais dos leitos dos rios, este foi-me negado.
Luísa – Perante essa desilusão, desistiu da ideia de dar uma utilidade social ao seu «brevet»?
Isabel – Passado pouco tempo, acompanhei o meu pai a França, onde entrei em contacto com as IPSA – Enfermeiras pára-quedistas e Socorristas do Ar da Cruz Vermelha Francesa. Era uma organização complexa, compreendendo mulheres pilotos de aviões civis, pilotos de helicóptero, enfermeiras e médicas pára-quedistas. O pára-quedismo militar em Portugal apenas começava e o pára-quedismo civil só daí a dez anos viria a ser uma realidade. Conclui por onde poderia conseguir os meus fins.
Luísa – Mas, Isabel foi pára-quedista civil.
Isabel – Comecei a pensar nisso justamente no decorrer da minha visita às IPSA, em França. Mas se eu quisesse ser pára-quedista, teria de mudar completamente a minha formação aeronáutica. A diferença entre um piloto e uma pára-quedista é que, para um piloto o abandono do avião, a não ser em caso extremo, é um acto de covardia. Ao passo que a função da pára-quedista se baseia no abandono do avião.
Luísa – Preferiu então continuar a voar?
Isabel – Continuei a voar, mas tinha caído quase na rotina. E eu não gosto de rotina. Seis meses depois parti para França, onde, com o apoio moral da Cruz Vermelha Francesa, tirei o meu «brevet» de pára-quedismo.
Luísa – Em que ano foi isso?
Isabel – Em 1956. Em Portugal não tinha ainda sido iniciado o pára-quedismo civil feminino. A minha visita às IPSA tinha-me trazido à ideia a possibilidade de termos, também em Portugal, enfermeiras e médicas para-quedistas.
Luísa – Lembro-me que, por essa altura, esteve na África portuguesa e que Kaúlza de Arriaga estava pensando com grande interesse na possibilidade de treinar enfermeiras pára-quedistas.
Isabel – Fui a Angola em 1959, convidada pelo Aeroclube de Luanda. Participei no Festival que concluiu o Rallye Aéreo ” Major Baltasar”, efectuando um salto comandado a 3 de Maio daquele ano. Foi o primeiro salto realizado em Angola por um pára-quedista civil. De Angola segui para Moçambique, a convite do Aero Club de Lourenço Marques, e lá efectuei também um salto comandado, em 17 de Maio de 1959, no Aeroporto de Mavalane. Fui o primeiro pára-quedista português, civil ou militar, que saltou em Moçambique.
Luísa – E quando se criaram as enfermeiras pára-quedistas?
Isabel – Foi constituído um corpo de enfermeiras pára-quedistas, em 1961, que se manteve actuante ao longo dos 13 anos de guerra. As autoridades aeronáuticas criticavam-me, com uma dureza que nunca entendi, por eu falar tanto em enfermeiras pára-quedistas, não sendo eu própia enfermeira. «Pois, pois, só pensa em voar, mas agora você precisa é de fazer uma coisa séria» – disse-me uma alta individualidade da então Direcção-Geral da Aeronáutica Civil. «Uma coisa séria» significava para eles um curso de enfermagem. Ora eu não desejava tirar um curso de enfermagem. Tinha estado demasiado tempo doente e até imobilizada, pelo que a doença me afligia. Decidi-me no entanto a tirar o curso. O meu principal objectivo, naquela fase, era fazer propaganda do pára-quedismo para interessar outras raparigas no intuito de poder ser formado o tal corpo de enfermeiras pára-quedistas. Creio que a minha passagem pelo curso de enfermagem terá contribuído para fazer aceitar o pára-quedismo pelas futuras enfermeiras como uma coisa natural. E quando estive em Angola e Moçambique, fiz algumas conferências nesse sentido.
Luísa – Continuava, entretanto, a não haver possibilidade, em Portugal, de tirar um «brevet» de pára-quedismo civil?
Isabel – Continuava. Eu mantinha a minha licença francesa, saltando em Portugal, no Batalhão de Caçadores Pára-quedistas, em Tancos. Pela minha parte, acho que os militares se tinham já habituado à minha presença. Entre as pessoas que praticam juntas uma actividade deste género criam-se laços e recordações que ficam para sempre. Tínhamos vivido juntos algumas situações difíceis e rido juntos quando aconteciam peripécias divertidas. Uma vez fui cair numa horta, de onde o proprietário me correu à vassourada e me acusou de grande mentirosa por pretender convencê-lo que tinha vindo do ar, trazida pela força do vento. Éramos todos amigos, de uma de amizade cimentada em experiências comuns.
Luísa – Quando casou interrompeu por algum tempo a sua actividade aeronáutica?
Isabel – Sim, mas nunca a abandonei. Conheci em 1960 o homem extraordinário com quem casei. Diplomata de carreira, como sabe, partimos para o nosso posto na cidade do Cabo, na África do Sul, onde como já disse, tirei também licença de piloto.
Luísa – Já como embaixatriz junto das Nações Unidas, em Nova Iorque, ainda tirou o «brevet» de balão de ar quente, não é verdade?
Isabel – Exactamente. E foi uma experiência extraordinária. Um balão de ar quente é uma coisa enorme, cabem lá dentro 70.000 pés cúbicos de ar; não sei se isto diz alguma coisa. Parece uma garagem quando está no chão a ser enchido. Foi uma experiência extraordinária, mas dura, porque tive de tirar aquele «brevet» durante o Inverno, que nos Estados Unidos é muito rigoroso. As temperaturas eram sempre negativas e eu não tinha equipamento adequado, porque era muito caro e o custo do «brevet» muito elevado também. Tive que optar.
Luísa – Chegou a completar o seu «brevet» de balão?
Isabel – Sim. Tenho o «brevet» nº 2 311 569, de 10 de Março de 1981. Perfiz doze horas de voo em balão, sendo assim a primeira portuguesa a obter esta licença.
Luísa – Ao longo da sua vida diplomática, que reacção tem sentido quanto a essa sua faceta invulgar de mulher voadora?
Isabel – Acho que nenhuma. Poucas pessoas conhecem essa minha faceta. E de qualquer forma, no estrangeiro, qualquer «hobby» é bem aceite.
Luísa – E os seus filhos, como têm reagido?
Isabel – Bem. Foram habituados nisso desde sempre. Quando eram pequenos, estavam dentro do avião num dia em que o Leonardo e eu saltávamos. Viram o pai e a mãe saltar para fora do avião e creio que se divertiram com isso.
Luísa – Nenhum dos seus filhos segue as suas pegadas aeronáuticas?
Isabel – O meu filho do meio fez alguns saltos da torre só pela curiosidade.
Luísa – Sentiu que a vida diplomática do seu marido a afastou do seu grande amor pelo ar – ou gosta de ser diplomata?
Isabel – No principio custou-me muito separar-me do meu pais, dos meus pais, dos meus amigos e dos meus aviões. Depois percebi que a vida diplomática abre horizontes maiores e me proporcionava uma riqueza de perspectivas que não teria conhecido se ficasse fechada em Portugal. Passei a gostar da vida diplomática.
Luísa – Considera terminadas as suas experiências no ar?
Isabel – Tenho sempre projectos. Nunca deixo nada definitivamente para trás. Há certas actividades que têm o seu prazo na vida – mas outras vão surgindo, na mesma linha.
José Rocha. . Entrevista publicada originalmente na Revista do Ar, propriedade do Aero Club de Portugal. Um agradecimento a Duarte Fernandes Pinto pela colaboração e fotografia. Publicado no CAVOK.pt em Dezembro de 2016.