Apanhados de surpresa pela falência da companhia aérea Monarch fundada em 1967, cerca de 110 000 passageiros ficaram sem aviso prévio retidos no Estrangeiro, e mais de 750 000 impedidos de viajar. Em menos de quatro horas, a Civil Aviation Authority britânica (CAA) pôs em marcha a maior operação de repatriamento de sempre em tempo de Paz.
Mas o que motivou a queda desta companhia aérea com novos aviões encomendados e a quem não faltavam passageiros?
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Voei pela última vez na Monarch o ano passado de Birmingham para Veneza. Nessa ocasião, já se comentava à boca pequena que poderíamos ficar retidos em Veneza sem poder regressar. Felizmente tal não sucedeu, mas eis que hoje, dia 2 de Outubro de 2017, os cerca de 800 000 passageiros com bilhetes comprados no site da companhia acordam para a dura e repentina realidade que a companhia que os ia transportar entrou em falência.
A maioria ficou com as férias estragadas, com hotéis pagos e carros de aluguer que não irão gozar, e cerca de 110 000 passageiros retidos sem aviso prévio no estrangeiro em dezenas de aeroportos para onde a companhia voa. Malaga, Alicante, Lanzarote, Faro, a lista é enorme. Espera-se que a maioria dos passageiros que fizeram estas marcações estejam eventualmente seguros pelo fundo criado pela autoridade aeronáutica inglesa conhecido por Air Travel Organisers Licence ( ATOL), subscrito pelas principais companhias aéreas inglesas e sejam reembolsados, mas há indícios que a companhia possa não ter a licença em dia e que grande parte dos passageiros necessite de procurar obter reembolso junto das entidades emissoras dos seus cartões de crédito e dos respectivos seguros de viagem.
Mas como é que uma companhia com aviões completamente ocupados nos próximos meses, entra em falência? De acordo com diversos especialistas financeiros , incluindo da KPMG a empresa encarregada a partir de hoje do processo de insolvência da empresa, as razões parecem ser fáceis de identificar: a queda da Libra em relação ao Dólar por causa do “Brexit”, e a situação violenta e instável no Egipto, Turquia e Tunísia.
Com efeito, só em combustível e manutenção, a companhia gastou em 2016 mais 50 milhões de Libras em relação a 2015, em virtude das despesas serem feitas em Dólares. O golpe de Estado na Turquia e os atentados na Tunísia e no Egipto (que motivaram pura e simplesmente a interdição de companhias inglesas voarem para Sharm El Sheik) e a insegurança daí resultante motivaram o turismo habitual a abandonar drasticamente estes destinos e procurar outros na Europa, um mercado que recebeu como consequência um acréscimo de 75.3 milhões de novos passageiros.
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O consórcio GreyBull Capital que adquiriu em 2014 a Monarch, (e que ao contrário do que se pensa nunca foi na sua génese uma companhia de baixo custo) decide então numa arriscada manobra de sobrevivência, abandonar os vôos de longa distância e virar-se para o mercado europeu dos destinos de curta distância, onde gigantes como a Easyjet, Ryanair, Jet2 e Wizzair dão cartas há muito. Como consequência, a Monarch é obrigada a baixar violentamente os seus preços de forma a competir neste mercado, o que lhe aumentou sem dúvida o número de passageiros, mas não o correspondente ganho financeiro. Por exemplo, o ano passado a companhia registou um aumento de 14 por cento no número de passageiros, mas um prejuízo de cerca de 100 milhões de Libras.
Há várias semanas que a CAA inglesa se tem vindo a preparar para o colapso da Monarch, preparando nos bastidores uma espécie de “companhia aérea sombra” que a qualquer momento pudesse ser activada para fazer face a uma crise no sector, recorrendo mesmo a companhias estrangeiras como a Qatar Airways, Easyjet, Hi-Fly ou Air Transat. Numa iniciativa com um planeamento digno de louvar, e mal a companhia KPMG anunciou às quatro da manhã de segunda-feira a falência da empresa, a CAA em poucas horas já tinha colocado no terreno aviões de substituição, e por volta das oito da manhã, quando os noticiários acordavam para a novidade, já alguns dos passageiros rumavam com o mínimo transtorno possível a caminho do Reino Unido. Estão previstos cerca de 700 vôos nas próximas duas semanas.
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Devido a um quadro de incerteza por causa do “Brexit”, a empresa não conseguiu encontrar compradores ou investidores estrangeiros.
Com cerca de 2750 funcionários, voando para 40 destinos e nas palavras do director executivo da CAA Andrew Haines, “a maior companhia inglesa de Aviação até ao momento a ter cessado operações”, fica no ar a incerteza acerca de qual vai ser a próxima vítima num mercado saturado e pautado por uma competitiva agressividade de preços.
Na última década cessaram operações 254 companhias de Aviação.
Breve resumo histórico da Monarch
Criada em 1967, efectua o primeiro voo em 1968 usando turbo-hélices “Bristol Brittania”.
Voa pela primeira vez um serviço a jacto em 1971.
Em 1972 transporta, nesse ano, meio milhão de passageiros.
Adquire nesta década aparelhos BAC “one-elevens”.
Na década de 80, opera Boeing 707, 737 e 757 efectuando também vôos charter e “wet lease”.
Em 1988 já transporta 2 000 000 de passageiros por ano.
Nos anos 90 opera MD-11, Airbus A300 e Boeing 767, e recebe dois A330.
A partir do ano 2000 expande os seus vôos de longo curso para mais de 40 destinos.
Apenas em 2004 resolve tentar a sorte no mercado das “Low Cost”, seduzida pelo sucesso da Ryanair e Easyjet.
Em 2006 encomenda seis Boeing 787 “Dreamliner” mas face ao atraso na entrega apenas em 2013 desiste, evocando “razões estratégicas”.
A partir de 2010 elimina a taxa de uso do cartão de crédito.
Em Dezembro de 2011 atinge prejuízos de 45 milhões e recebe do governo uma injecção de capital de 75 milhões de Libras.
Em 2014 é adquirida pelo consórcio Globus Travel/GreyBull Capital, que resolve concentrar-se nos percursos médio-curtos, principlamente na Europa.
Em 2016 surgem os primeiros rumores de uma falência.
Hoje, a 02 de Outubro de 2017 a empresa fundada há 50 anos entra oficialmente em falência. A Monarch tinha planeada a aquisição de 45 Boeings /37 Max-8 para substituir a sua frota de A320/A321.
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Mike Silva. 2 de Outubro de 2017. Fotos por JC Gellidon, Jurg Gutknech, monarch.uk e Tannie Theby
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