Chapéus há muitos…

…ou melhor será dizer, auscultadores há muitos, seu… Piloto!

Felizmente. Bons, baratos, caros, mono, estéreo, etc.

Para além das questões de higiene, enquanto pilotos acabamos sempre por adquirir este tipo de equipamento, e fazemo-lo segundo os mais variados critérios pessoais. Conforto, indicações de outros utilizadores, preço, etc.

cap1Comecemos pelo conforto, onde o peso do conjunto é essencial. Quanto mais leve, melhor. No entanto, a economia de peso, pode levar a menos atenuação de ruído. Depende dos materiais usados. Reduzir o peso mantendo a atenuação, paga-se. Nas almofadas dos ouvidos (earseals), reside outro factor de conforto. Podem ser de espuma ou preferencialmente de gel líquido. Estas últimas isolam melhor, aquecem menos e têm características hipo-alergénicas.

A almofada superior constitui outro factor de conforto. Para o bom e para o mau. A pressão de aperto na cabeça, pode ser nalguns casos, bastante cansativa, nomeadamente, nos modelos mais baratos que utilizam um maior aperto para atingir um melhor isolamento de som.

A atenuação é pois função de vários factores, e resulta de um compromisso com o conforto e claro, com o preço. Esta atenuação mede-se em dB (decibel), e a maioria dos fabricantes anuncia um valor entre 20 e 25 dB de atenuação passiva. Quanto maior, melhor. Tenhamos em linha de conta que uma atenuação de 3 dB, equivale a reduzir a energia sonora para metade.

Além da atenuação passiva – PNR (Passive Noise Reduction), temos a atenuação activa – ANR (Active Noise Reduction). A passiva é a tradicional e é resultado da capacidade que o conjunto tem de bloquear o ruído ambiente. Os auscultadores que utilizam a atenuação activa, fazem uso da tecnologia para gerar uma espécie de anti-som dentro das caixas dos auscultadores. Um ou mais microfones, instalados nas caixas “apanham” o som exterior, invertem essas ondas sonoras electronicamente, reduzindo nos auscultadores o som de força contrária. Esta atenuação é mais efectiva nas frequências mais baixas (ruído do motor e da hélice), sendo menos presente nas gamas mais altas, onde podemos encontrar o ruído aerodinâmico e ainda a voz.

ra250Dado que uma parte do som é manipulado, a utilização destes auscultadores pode requerer alguma habituação. Mas são definitivamente, uma mais-valia em termos de conforto, nomeadamente em viagens de maior distância e em ambientes de muito “granel” rádio. São normalmente mais caros que os passivos e precisam de alimentação eléctrica suplementar – normalmente uma pilha de 9 V.

O termo noise-cancelling poderia confundir-se com o ANR, mas na realidade refere-se ao microfone do nosso conjunto e é independente das tecnologias anteriores. O cancelamento de ruído é a capacidade que o microfone tem de captar a nossa voz e não o (imenso) ruído envolvente. Isto é conseguido, até em alguns auriculares de telemóvel, com um microfone duplo, na realidade dois microfones desfasados 180º. Desta forma, o ruído ambiente é captado pelos dois microfones que estando em oposição, se anulam, enquanto a nossa voz, muito perto de um deles, é praticamente captada só por um e devidamente amplificada. Significa que, quando no rádio ouvimos uma comunicação acompanhada de muito ruído ambiente, ou o microfone não é duplo, ou um deles está avariado, admitindo que o operador tem o microfone perto dos lábios.

Os microfones podem ser dinâmicos ou electret. Os dinâmicos, de baixa impedância, usam uma tecnologia similar aos transdutores dos telefones mais antigos. São actualmente usados em helicópteros e na aviação militar. Os mais recentes electret, de tecnologia piezo-e-lectric, são os que mais se usam actualmente pela sua qualidade, baixo custo e de não precisarem de pré-amplificação como os dinâmicos, apesar de a maioria das marcas disponibilizarem ajuste de nível de microfone, para melhor “emparelhar” com o transmissor a que vão estar ligados.

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Nas diferenças entre os dois tipos de microfone, reside a maior parte das incompatibilidades observadas a bordo, já que, juntar um conjunto com microfone dinâmico com um outro de electret, normalmente não é isento de problemas, dependendo ainda do tipo de intercomunicador utilizado.

Ruídos, maus contactos, interferências, ausência de som, são problemas que ficam para uma próxima oportunidade.

Até lá, boas e claras comunicações e, sempre que tiver de desligar os auscultadores do painel, puxe pela ficha/conector, e não pelo cabo.

E já agora, por uma questão de higiene, de quando em vez, substitua a pequena capa que envolve o microfone. Se não usa, passe a usar, já que protege o microfone e melhora a qualidade do som transmitido.

Roger and Out!

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In REVISTA VOAR APAU #1. Autor Nuno Franco