And the Oscar goes to…

... geralmente para Ponte de Sor e/ou para Viseu, as suas bases operacionais principais.

Falamos dos AVRAC (AViões de Reconhecimento, Avaliação e Coordenação) que se incluem nos MARAC (Meios Aéreos de Reconhecimento, Avaliação e Coordenação), parte integrante do DECIR 2019 (Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais 2019).

Com o indicativo operacional “Oscar” (de “Observação”), os pequenos Cessna 182 da Avitrata desempenham uma grande missão.

Essa missão dos Oscar, que completa e complementa as missões dos demais meios aéreos (“Alfa – Aviões” e “Hotel – Helicópteros”) e dos meios terrestres, tem o seu âmbito e a sua aplicação definidos na DON N.º 2 / DECIR 2019 da ANEPC (Directiva Operacional Nacional nº 2 / DECIR da Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil, destacando-se:

– “ações de monitorização aérea e vigilância dissuasiva”;

– “avaliação da situação operacional dos TO” (Teatros de Operações);

– “empenhamento em ações de reconhecimento, de avaliação e coordenação”.

A missão dos Oscar é muito similar, embora distinta, à de aeronaves utilizadas de forma extensiva em países como os Estados Unidos da América e o Canadá.

Tal como referido num artigo anterior, o combate aéreo aos fogos florestais passou igualmente pela evolução nas respectivas tácticas, as quais se tornaram cada vez mais eficientes com a introdução dos “bird dogs” e dos “lead planes“.

No final da década de 1940, os “bird dogs” (termo originário do exército norte-americano) começaram a patrulhar e a vigiar áreas florestais remotas e a efectuar missões de ligação.

Desde então, estes aviões passaram a ser aplicados na coordenação do combate aéreo aos fogos florestais, feita por tripulantes que, consoante o país e/ou instituição a que estão adstritos, podem ser designados Aerial Attack Leader, Air Attack Officer ou Air Tactical Group Supervisor.

Também designados Bird Dog Officers, estes elementos de coordenação foram introduzidos para assegurar uma operação segura, efectiva e eficiente dos meios utilizados no combate aos fogos florestais.

Em termos gerais, estes tripulantes têm por função, muitas vezes em antecipação à chegada de meios ao TO:

– fazer uma avaliação inicial do fogo e o reconhecimento da área (terreno, obstáculos, perigos, turbulência, visibilidade);

– formular um plano de ataque ao fogo;

– indicar o local e a direcção das descargas efectuadas pelos outro meios aéreos, guiando-os para o efeito;

– organizar e controlar o teatro de operações, o espaço aéreo envolvente e os meios envolvidos;

– avaliar a qualidade e a efectividade das descargas.

Com o decorrer do tempo foram também introduzidos os MMA – Multi-Mission Aircraft, equipados com sensores e câmaras de alta tecnologia que permitem monitorizar ainda melhor os fogos e supervisionar mais eficazmente o respectivo combate pelos meios aéreos.

Assim, os “nossos” Oscar levam em consideração as características tipicamente requeridas para um “bird dog“:  boa visibilidade (asa alta, no caso), fiabilidade, segurança, velocidade/performance, manobrabilidade, conforto e autonomia. Tratando-se de aviões Cessna 182 Skylane II RG, essencialmente está tudo dito!

Por outro lado, a tripulação dos Oscar é constituída por um piloto e por um Operacional do GAUF (Grupo de Análise e Uso do Fogo) da FEPC (Força Especial de Protecção Civil).

Este último tem a seu cargo, entre outras funções, a operação de um sistema de observação, detecção e monitorização de fogo, o UGS40 Gimbal, de que falaremos a seguir.

Além da função descrita acima, o Operacional da FEPC pode desempenhar ainda um papel muitíssimo importante na avaliação técnica dos TOs.

Dotados de formação, qualificações e treino específicos, a que acresce uma grande experiência de operações no terreno, estes Operacionais da FEPC, quando requeridos, e dada a perspectiva de análise vantajosa proporcionada pela dimensão aérea, podem fornecer pontos de situação avalizados aos diversos elementos e estruturas de comando e até auxiliar na coordenação de meios. 

Relativamente ao UGS40 Gimbal, é Made in Portugal pela UAVision Aeronautics.

O sistema pode ser utilizado em operações diurnas e nocturnas e inclui duas câmaras (luz visível e infra-vermelho/térmica) instaladas num suporte fixado no montante da asa direita dos aviões.

A gestão do sistema a bordo é feita através de um interface (tablet e controlos) que permite a operação das câmaras e a visualização e a transmissão/envio, basicamente em tempo real, da informação georreferenciada captada pelas mesmas.

As valências deste sistema são múltiplas e conferem ao combate aos fogos rurais, por vezes muito complexo, uma ferramenta excepcional para o apoio à tomada de decisões.

Esperando que os respectivos voos sejam pouco ou nada frequentes (com o que isso implica de positivo), os Oscar estão atribuídos, pelo menos, aos Níveis de Empenhamento Operacional compreendidos entre 15 de Maio e 15 de Outubro, assegurando a cobertura do território de Portugal Continental, em articulação com os CMA (Centros de Meios Aéreos) e/ou CDOS (Comandos Distritais de Operações de Socorro).

Desse modo, sempre que se ouvir um Oscar a reportar na fonia, a caminho de mais uma missão operacional, recordemos, adaptando, a história de Fernão Capelo Gaivota (John Livingstone, de Richard Bach): “vê melhor e mais longe o Oscar que voa mais alto”.

Pedro Neves Cruz. Julho 2019. Fotos de Pedro Neves Cruz.

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