“The Dance” – arte coreografada no céu… – Parte II

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The will to fly was (and in many cases still is) the will to conquer, to overcome all obstacles in the effort to gain control over the natural conditions of environment.” (M.J. Bernard Davy)

O combate aéreo aos fogos florestais passou igualmente pela evolução nas respectivas tácticas, as quais se tornaram cada vez mais eficientes com a introdução dos “bird dogs” e dos “lead planes“.

No final da década de 1940, os “bird dogs” (termo originário do exército norte-americano) começaram a patrulhar e a vigiar áreas florestais remotas e a efectuar missões de ligação.

Para este fim, assistiu-se novamente à adaptação e à utilização dos mais variados modelos de aviões militares e civis: Cessna 337 / O-2 Skymaster, OV-10 Bronco, 8GCBC Scout, Baron e King Air, Cessna 305, 310 e Citation I, Piper Aerostar e Aero Commander 690.

Desde então, estes aviões passaram a ser aplicados na coordenação do combate aéreo aos fogos florestais, feita por um Air Attack Officer e/ou por um Air Tactical Group Supervisor.

Estes últimos têm por função fazer uma avaliação inicial do fogo e o reconhecimento da área (terreno, obstáculos, perigos, turbulência, visibilidade), indicar (às vezes com marcas de fumo lançadas pelo avião) o local e a direcção das descargas, conduzir e orientar (com indicações verbais e guiamento físico) os aviões-tanque (air tankers), organizar e controlar o teatro de operações, o espaço aéreo envolvente e os meios envolvidos, avaliar a qualidade e a efectividade das descargas.

Com o decorrer do tempo foram também introduzidos os MMA – Multi-Mission Aircraft, aviões como o C-26 “Metroliner” e o Pilatus PC-12, equipados com sensores e câmaras de alta tecnologia que permitem monitorizar ainda melhor os fogos e supervisionar mais eficazmente o respectivo combate pelos meios aéreos.

Our dancing partners varied in size and weight, and if we were lucky – we learned from our mistakes. Tactics evolved to make the dance safer and more effective. Improvements were made along the way to make our dancing partners more friendly, but make no mistake, this was still dangerous work in a volatile environment with constant change.” (Tom Janney)

Relativamente a meios aéreos, os helicópteros desempenham igualmente um papel determinante nos fogos florestais, quer no combate aos mesmos, quer na execução de muitas das missões dos “bird dogs“.

A utilização dos helicópteros no combate aos fogos florestais remonta ao fim da década de 1940.

Inicialmente utilizados em missões de apoio e de logística, essencialmente para o transporte de pessoas e material, os helicópteros passaram a ser utilizados igualmente para o combate aos fogos florestais a partir do fim da década de 1950.

Neste caso também foram e são aplicados helicópteros utilizados por militares e por civis, máquinas tão distintas e ilustres quanto: Alouette II / Lama, Alouette III, Bell 47, UH-1 Iroquois / Huey (Bell 204/205), JetRanger, Bell 212, Boeing Vertol 107 / CH-46 Sea Knight, Boeing Vertol 234 / CH-47 Chinook, Écureuil, K-1200 K-Max, Ka-32 (Ka-27 Helix), Mi-8/17, Mi-26, W-3 Sokol, H-34/S-58, S-61L/N / SH-3 Sea King, SH-70 Firehawk / UH-60 Blackhawk, S-64 Skycrane/Aircrane / CH-54 Tarhe, S-65 Fire Stallion / CH-53 Sea Stallion.

Do Monsoon Bucket ao Bambi Bucket, rígidos ou colapsáveis, a tanques acoplados/incorporados na fuselagem, cheios por mergulho e/ou com recurso a bombas, com capacidades entre os 265 e os 9850 litros, também é grande a variedade de recursos associados aos helicópteros de combate a fogos florestais.

Decorre ainda da polivalência natural dos helicópteros a colocação de pessoal no terreno, seja por aterragem, seja por inserção via rappel.

Any idiot can get an airplane off the ground, but an aviator earns his keep by bringing it back anytime, anywhere, under any circumstances that man and God can dream up.” (Walter Cunningham)

E aqui surge uma questão fundamental: são as pessoas no terreno, apoiadas por meios terrestres e pelos meios aéreos, que apagam os fogos florestais.

Os meios aéreos, através do ataque directo, indirecto ou paralelo, inicial ou ampliado, são altamente eficazes em fogos iniciais: dadas as respectivas capacidades e potencialidades, os resultados conseguidos por meios aéreos bem empregues podem ser excepcionais.

Contudo, no geral, os meios aéreos não conseguem apagar fogos florestais por si mesmos: os meios aéreos são básica e essencialmente utilizados para eliminar “pontos quentes”, prevenir o alastramento do fogo, ajudar a dominar o perímetro e a controlar o progresso do mesmo e a arrefecer o ambiente do teatro de operações para que as equipas no terreno possa trabalhar de forma mais segura.

Relativamente aos operacionais que combatem os fogos florestais no terreno, destacaria os smokejumpers, criados há aproximadamente 80 anos e em actividade nomeadamente nos Estados Unidos da América e na Rússia. Estes bombeiros pára-quedistas, altamente treinados, qualificados e especializados, podem ser rapidamente posicionados, por via aérea, em áreas remotas e atacar e extinguir fogos nascentes.

No mesmo sentido, gostaria de destacar muito particularmente a abnegação total e o trabalho inexcedível do Grupo de Intervenção, Protecção e Socorro (GIPS) da GNR e da Força Especial de Bombeiros (“Canarinhos”) e a dedicação e coragem dos Bombeiros Portugueses.

Uma palavra final de homenagem para os demasiados pilotos que perderam a vida ao serviço da nobre missão de proteger os outros.

The supreme art of war is to subdue the enemy without fighting. (…) The greatest victory is that which requires no battle.” (Sun Tzu, A Arte da Guerra)

Os aviões de combate aos fogos florestais continuarão a despertar curiosidade e a gerar espanto: um político sueco terá ficado recentemente admirado com a capacidade de trabalho e com a eficácia de uma parelha daqueles, como algumas pessoas dizem, “aviões pequeninos amarelos”… O AT-802F Fireboss só (!!!) tem 18 m de envergadura e carrega 802 USG (3000 litros) de água no hopper

O futuro do combate aéreo aos fogos florestais trará novidades como o Air Tractor AT-1002 e o AVIC AG600, a possível adaptação de plataformas como o C-27J Spartan e o S-3B Viking e a introdução de upgrades como o CL-415EAF (Enhanced Aerial Firefighter).

Equipados com sensores de topo e dotados de grande autonomia, os drones e as aeronaves não-tripuladas expandirão exponencialmente as capacidades de observação das florestas e de detecção, monitorização, controlo e até combate dos fogos florestais.

Quanto aos factores que estão a assumir a vanguarda na determinação dos novos padrões associados aos fogos florestais, as alterações climáticas deixaram de ser especulação política e abandonaram a urbanidade do mito e continuam a revelar-se galopante e empiricamente à luz da ciência e da factualidade evidente.

As variações do clima têm acompanhado de forma natural e cíclica a história da Terra: o grande problema reside na taxa proibitiva e no ritmo preocupante a que se estão a produzir, demasiado influenciadas e aceleradas pela acção directa do Homem e numa escala que está a comprometer seriamente o seu futuro.

A realidade continuará a implicar, de facto, um aumento na frequência, dimensão e duração dos fenómenos designados extremos, alguns deles relacionados com a alarmante modificação dos padrões hidrológicos.

Além do investimento na reversão do muito que está mal, urgirá, portanto, e no âmbito do tratado nestes dois textos, apostar igualmente na protecção das pessoas e de bens tão preciosos quanto as florestas: nesse sentido, e no mais imediato, “no prevenir poderá estar o ganho”. E essa responsabilidade é de todos nós.

The time for action is now. It’s never too late to do something.” (Antoine de Saint-Exupéry)

Pedro Cruz. 11 de Agosto de 2018. Fotos por Luís MalheiroMatt Howard, Neil Thomas Maxime Gauthier, JC Gellidon, Andrew Gaines. As fotografias são meramente representativas.

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