Viagem Bulgária Portugal – O regresso

Acordamos de manhã e a previsão confirma–se… esteve a nevar toda a noite e sendo assim, o regresso não poderá ser feito!

Vamos na mesma para o Aeródromo acabar de tratar de algumas papeladas e preparar o regresso. O Dimona é um avião em que temos de gerir bastante melhor o peso. Pesamos tudo antes de organizar no avião e tudo o que não for absolutamente necessário fica e irá de DHL, bem como os historiais e documentos de manutenção do Dimona.

O dia começa a dar sinais de melhoras e, embora a pista tenha bastante neve, o Arlindo decide tentar no Rallye e ver como se comporta. Levanta, dá uma volta e volta a aterrar. Fica então decidido que vai fazer mais um voo, desta vez com o Búlgaro no Rallye para ele conhecer melhor a máquina!

Ao fim de 45 minutos eles regressam com a boa nova. Afinal o tempo melhorou bastante. Vamos sair com o Dimona e levá-lo para Gorna, um aeroporto com controlo de fronteira e, melhor ainda, com um hangar. Assim, mal a meteorologia melhore, pudemos sair em direcção a Portugal!

Arlindo e Geórgio levaram o Dimona e eu fui de carro ter com eles a este aeroporto.

Chegados ao aeroporto, falamos com os operadores locais e fica tudo esclarecido que na primeira melhoria de meteorologia, saímos.

Vamos para o Hotel e esperamos!

No dia seguinte estava muito mau e decidimos que não iria dar. Vamos ao aeroporto e confiantes na meteorologia combinamos para o dia seguinte. Pomos combustível, arranjamos os cintos. Reorganizamos o avião. Está tudo pronto!

No dia seguinte a meteorologia confirma se. Embora não esteja perfeito, temos tecto a 3 mil e 4 mil pés. Plotamos o caminho, fugindo de montanhas e vamos para a Croácia fazer o primeiro fuel stop.

Sobrevoamos a Servia e aterramos em Osijeck na Croácia.

Pessoal extremamente simpático, mais uma vez. Ainda não tínhamos desligado o motor e já estava uma carrinha para o combustível e com um representante do aeroporto que nos iria encaminhar para a Alfandega! Em 20 minutos estava alfândega feita, taxas pagas e combustível a bordo.

Vamo-nos embora!!

Com esta pressa, ao descolarmos, esquecemo-nos que não era o Rallye e o Dimona marcou a sua posição! Começa a abanar mesmo antes de descolar e mal o tiramos do chão, a asa do lado contrário ao vento ameaçou bater no chão!! Ufa que susto!

Susto refeito, pequeno briefing no cockpit do que foi feito menos bem e vamos para Veneza (espaço Schengen), sobrevoando a Eslovénia.

O Dimona a portar-se muito bem e a fazer uma boa velocidade, muito parecida com o do Rallye, embora com algum vento de frente.

A chegada a Veneza foi perfeita. Refeitos do susto ao descolar, vamos agora ter cuidado, muito cuidado agora!!!  Uma vez mais algum vento lateral mas a coisa faz se bem. Três rodas no chão!

Aterrados em Veneza há que tratar de combustível. Não há!!! Bolas. Vamos ter de pensar noutra alternativa. Então vamos tratar de dar entrada no espaço Schengen. Como bons italianos que são, dizem-nos que não vale a pena e que está tudo tratado! Ok!! Agarramos nas malas e vamos para o hotel.

Aqui não há Ubers,  há barcos e sendo assim lá vamos nós para planear o dia seguinte!

Itália e Franca… 

Acordamos em Veneza às 03:30.

Temos de apanhar um barco para sair de Veneza e depois apanhar um autocarro que sai às 06:00 para o aeroporto. Digo que sai porque sai mesmo. Enganamo-nos na saída do barco, saímos na seguinte, andamos 1.1kms e quando estamos a 200 metros o autocarro partiu sem nós. Tudo bem! Uber! Não há…. Então vamos chamar um táxi!! Pedimos ajuda e nenhum italiano sabe o número dos táxis.

Depois de 20 minutos lá nos dizem que há uma praça a 2kms. Fazemo-nos à estrada!!

Vinte minutos depois chegamos aos táxis. São 100€!! Hesitámos. procuramos soluções!! Não existem, se não queremos perder tempo!! Pomo-nos a caminho e 100€ depois estamos em Treviso.

Alfandega, passaportes, taxas de aeroporto e vamos para o avião que já passam 15 minutos do nascer do sol. Chegando ao avião, estava com uma camada de 5 cm de gelo. Pedimos ajuda para de-icing. São 120€ mais o produto… Dizemos que não vamos gastar isso.

Começamos a remover o gelo à mão. 2 horas nisto. Finalmente prontos e já são 9 horas da manhã.

Descolamos e vamos parar logo de seguida para abastecer. ….mulher e ligar a amigos que nos seguem através do tracker, a mandar mensagens o porquê de termos parado com apenas 45 minutos de voo.

Bomba self-service mas que não aceita cartões….só Euros!!

Metemos 115€ e mesmo assim não encheu!! Pomos mais €50 mas com 7€ ficou cheio… não devolvem o excesso!!! Fico com credito ?!!

Vamo-nos embora para Montpellier.

Comandante Arlindo já dorme e eu cada vez com o teto mais baixo.

Entramos em França a 1000 pés AGL, acordo o comandante!! Vamos a voar baixo. Um olha para o GPS e outro voa!! De repente uma aberta de azul. Passamos para cima com voltas de 360. VMC on top e vamos para Montpellier!! 


Os ventos a 8 mil pés de 30 knots de nariz do avião começam a desmotivar-nos. Contas e mais contas. Não dá!!! Temos de aterrar antes. Para isso temos de passar para baixo das nuvens e encontrar soluções e com Avgas.

Passando para baixo, entramos na zona de Cote d’Azur com muitos aeroportos de alguma dimensão. Os ATC’s que vamos contactando pedem-nos muita informação. Não percebo porquê, mas sempre que mudamos de ATC perguntam-nos de onde vimos, para onde vamos, nome da aeronave, pessoas a bordo, matricula e intenções. Digo isto umas 20 vezes!!! E de cada vez que digo, eles dão-me um novo código transponder!

Um voa, outro comunica e arranjamos soluções!!!

Viemos a saber depois que era base militar.

Depois de muita procura, encontramos Cannes! Aterrámos mas não sem antes andar-mos à procura, a tentar encontrar um avião amarelo que estava sem responder ao rádio e sem transponder!!!
Combustível in!!! Há que pagar as taxas… €100!!! Xiçaa!!!

Descolamos com planos de chegar a Espanha. 3 horas de sol e o tempo a fechar… Linha de costa inicialmente… tectos a ficarem baixo. Então passámos para cima.

Uma vez mais em cima, o vento!!! Contas e mais contas… Não dá!! Vamos para Montpellier. A caminho, vemos a Costa a ficar completamente fechada… que fazemos?? Vamos para norte.. hoje ficaremos em Avignon!!!

A previsão para o apontava para uns tectos baixos até Barcelona, mas depois a coisa melhoraria significativamente! Talvez dê para chegarmos a casa hoje, mas tudo tinha de correr muito bem!! Bom tempo, vento de cauda e fuel-stops tipo formula 1.

Chegámos ao aeroporto uma hora antes do nascer do sol, pois não queríamos perder nenhum minuto hoje. Pagámos taxas e, embora seja espaço Schengen, aqui exigem passaportes.

Na torre informam-nos que só abrem às 8 da manha (meia hora depois do nascer do sol) a não ser que saibamos fazer as comunicações em Francês e aí já poderíamos descolar antes. Como já tínhamos alguma prática com o voo de ontem, aceitamos a condição e vamos para o avião.

Sentámo-nos e preparamos para descolar. Informamos que vamos taxiar mas afinal não vamos! O Dimona recusa-se a sair do lugar. Temos os travões presos. Insistimos, mas não anda.

Desistimos! Desligamos e começamos a tentar perceber o que aconteceu. Tínhamos o parking break ligado e não o conseguíamos desligar. Arlindo desmonta por cima e eu começo a desmontar por baixo a tentar perceber. Ao fim de 1 hora nisto, não chegamos a qualquer lado. Tudo na mesma!

Neste aeroporto tem uma zona para aviação geral. Procuro um mecânico e lá encontro um. Peço-lhe ajuda. Ele vem ao avião e em 1 minuto consegue desbloquear. Sei agora que atrás do banco tem um botão que solta o travão!

Arrancamos já com 2 horas de atraso e com a meteorologia cada vez a piorar mais.

Vamos em direcção à costa a Montpellier, pois assim, fugimos das montanhas e podemos voar baixo. Chegamos a Montpellier e viramos em direcção a Barcelona shoreline.

Nesta parte do percurso há muitos aeroportos e alguns deles internacionais. Começamos a voar de espaço aéreo em espaço aéreo e em cada espaço aéreo eles perguntavam nos sempre o mesmo:

-De onde vimos

-Para onde vamos

-Tipo de aeronave

-Número de pessoas a bordo

Após esta informação, davam-nos um novo código de squawk. Isto foram umas 10 vezes durante 3 horas…

Fomos navegando pela shoreline pela costa Francesa, sempre com uma visibilidade e tecto s muito baixos. Foram-nos colocando em corredores aéreos com waypoints no meio do Mediterrâneo, mas graças ao skydemon lá fomos conseguindo encontrar todos.

Estes corredores têm uma altura única. Ou seja, o tráfego fazia-se todo à mesma altitude e cada vez que tínhamos tráfego às nossas 12 horas, era-mos nós que decidíamos se subíamos, se descíamos ou se mantínhamos… passámos por uns Canadairs a menos de 200 pés em sentido oposto.

Imaginem, terreno desconhecido, tecto a mil pés, chuva, waypoints no mar, corredores a 700 pés, tráfego em sentido oposto, sempre a mudarem de squawk e frequências, sempre a pedirem nos informações de voo…

Começamos a ver os Pirenéus e com isto o tempo começa a melhorar. Começamos finalmente a subir e acordámos em tentar passar por cima dos Pirenéus para evitar o espaço aéreo de Barcelona e porque sabemos que a costa de Barcelona está com uma meteorologia má.

Subimos a uns estonteantes 30 knots de Ground Speed.

E já está! Espanha!

Tínhamos escolhido um aeródromo para o interior de Girona, mas mal passamos os Pirenéus, só vemos branco na rumo em que queremos ir. Resolvemos ligar para o aeródromo e recebemos boas notícias. Não têm nuvens no aeródromo. Felizes, continuamos o nosso caminho, sempre a ver os aeródromos que vamos passando e tomando notas mentais de qual seria uma solução caso a meteo se agravasse. No nosso trajecto temos cada vez mais  nuvens por baixo… começo a desconfiar. O que fazer? Decidimos passar a camada para baixo!! Vemos uma boa aberta e lá vamos nós. Já em baixo percebemos o porquê daquela aberta…era um vale sem saída com as nuvens coladas aos picos. Começamos a enrolar num espaço não maior do que 1 km2 para regressar ao topo da camada!

Umas 10 voltas depois e estamos novamente on top! Decidimos ligar novamente para o aeródromo, e afinal o tempo tinha fechado completamente… vamos ter de arranjar uma alternativa!!

Decidimos voltar para trás pois sabíamos que para trás estava bom e assim decidimos ir para Andorra!

Aterrámos em Andorra, com combustível e com 2 horas de luz pela frente decidimos que não iríamos pela costa, mas sim pelo interior. Passar novamente a Teruel que já conhecíamos.

Pelo caminho mando um email ao Director do Aeroporto a informar a nossa decisão!

Aterramos em Teruel com algum vento cruzado mas fez se bem!

Reabastecemos o Dimona de combustível e vamos para a alfandega e papeladas de aeroporto. No edifício do aeroporto conversámos com o Director, que nos informa que para o dia seguinte estavam a prever um nevão! Shit!

Vamos para o hotel agarrados aos windys, windgurus e tudo o que temos e todos nos dão o mesmo.. Mau tempo de manhã com possibilidade de melhoras a partir do almoço. Ora a partir do almoço não dá para chegarmos a casa. Vamos ter de arriscar.

Na manha seguinte tudo se confirma. Neva o caminho todo do hotel para o aeroporto. Chegando ao aeroporto e ao fim de um hora pára de nevar e pedimos de-icing (aqui são apenas 20€)

Por volta das 9:00 vemos umas boas abertas para sul e decidimos descolar. O plano na minha cabeça seria descolar e passar por cima da camada, mas o Arlindo achou que talvez seria melhor ir por baixo. Falamos disso mas não decidimos nada…

Descolamos e pomo-nos a caminho da aberta. Começamos a discutir se vamos por cima ou por baixo e ao fim de alguma insistência minha, pois tínhamos algumas montanhas no caminho, decidimos que vamos tentar subir… com o avião pesado vamos subindo muito devagar, 3 mil pés, 4 mil pés, 5 mil pés… chegamos aos 7 mil pés mas não é ainda o suficiente. Já estamos muito perto das nuvens e decidimos fazer 180 e continuar a subir… 8 mil pés, 9 mil pés, 10 mil pés… Já está!!! Demorámos cerca de 30 minutos mas conseguimos, estamos on top, pudemos retomar o nosso rumo, sabendo que este manto de nuvens se iria prolongar por umas 50 milhas e que depois seria CAVOK!

Como previsto a nuvens começam-se a dissipar e vão desaparecendo.

Chegando a Ocana, tempo de reabastecer. Preparado com o meu cartão da AirBP, peço combustível. Não dá! A matrícula no cartão é do Rallye e eles não podem abastecer com um cartão com a matrícula errada. Temos horas de luz, 3 horas de voo até Cascais. Temos de resolver e rápido. Vou à secretaria e peço ajuda. A senhora desfaz-se em desculpas mas não pode. Mesmo que pague me dinheiro, eles não aceitam! Ligo para AirBP de Portugal e peço ajuda! O Miguel da AirBP disse que iria tratar disso, e tratou!!! 15 Minutos depois liga-me a dizer que está ok, que já falou com Espanha e que podemos abastecer. Vou a correr para o avião pois agora só tínhamos 4 horas de luz e 3 horas de voo. Abastecemos e descolámos em direcção a Cascais!

Passamos para Madrid Control e quando estamos a 100 milhas de Madrid pedem-nos para passar para uma nova frequência 136.100Mhz… Tento ainda dizer que não consigo, pois o meu radio é antigo e só vai até 135.000Mhz, mas já não nos ouvem. Decidimos continuar em frente, com olhos bem abertos e seguir o plano de voo à risca. À medida que no aproximamos a Portugal, sintonizo Lisboa militar e fico muito feliz quando começo a ouvir. Passamos a fronteira e já cheira a casa!!!!

Lisboa Militar diz que não tem o nosso plano de voo, não sei porquê, pede-nos as informações de voo, fazendo-me relembrar França e inicia a debitar informações de tráfego com algumas áreas restritas. Pedimos para ir para Cascais e por Norte! Olhamos para o relógio e vemos que temos tempo… começamos a fazer um balanço da nossa aventura e desejando para uma nova.

Chegamos finalmente a Cascais.

Como o nosso avião tem matricula Búlgara, somos recebidos pelo Follow Me que nos ajuda a parquear!

Desligamos e estamos em casa!!

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AQUI poderá ler a PRIMEIRA PARTE da Viagem à Bulgária por Vasco Simões Almeida.

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AQUI poderá ler a Odisseia do voo Portugal Bulgária por Arlindo Silva.

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AQUI pode ver o VIDEO com o resumo desta VIAGEM À EUROPA de Vasco Almeida e Arlindo Silva
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Vasco Simões de Almeida. 27 de Fevereiro de 2018. Fotografia por Vasco Simões de Almeida

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