Viagem a Prievidza – O regresso

Pode ler a primeira parte d’A VIAGEM A PRIEVIDZA AQUI.

[spacer height=”20px”]

Passado o tempo no Aeródromo pudemos observar o movimento de um dia típico de fim de semana, várias aeronaves (quase todas Dynamic WT9), um Sting S4 e um Wt10 Advantic, este em particular prendeu a nossa atenção porque está ainda em fase de testes. Observamos diversas descolagens para lançamento de pára-quedistas de um Cessna 172 que na rolagem saltava de uma forma incrível devido ao piso da pista (deve ser esquisitice minha), observamos também a descolagem de um WT9 Dynamic a rebocar um planador e ficamos para jantar e terminar o dia no restaurante do aeródromo (boa comida por sinal).

Enquanto a reparação ocorria íamos espreitando o hangar de montagem dos Dynamic, alguns já com o motor 914 turbo, metade deles com trem retráctil e quase a totalidade com aviónicos Garmin G3X. Podemos ver também a construção dos planadores feita com um cuidado e atenção dignos de registo. Entretanto o Wt10 Advantic está a ser preparado para mais um voo de teste com sacos de areia nos bancos traseiros, este era já o oitavo avião construído.

Com o nosso problema resolvido pensámos o que fazer, voltar pelo mesmo caminho? Via República Checa – Alemanha – França – Espanha? Fomos ver a meteorologia e havia uma frente a instalar-se na zona leste da Alemanha com chuva o que nos deixou apreensivos, além do mais, os ventos registados nos Metar e TAF dos diversos aeroportos eram ventos contra de 20 kts com rajada de 28 kts….passamos ao plano B e a metereologia estava CAVOK.

Depois de uma refeição ligeira e do plano de voo submetido descolamos sem qualquer tipo de pedido de autorização nem obrigatoriedade em sair de um determinado aeródromo (ahhh, como é bom voar num país Europeu). Contactámos Bratislava Information e seguimos rumo a Hungria com 2 helicópteros da Força Aérea Polaca à vista, mais uma vez com vento cruzado ou contra, a Vt mantinha-se nos 110-115 kts. Perto da fronteira e a cruzar o Danúbio somos instruídos a contactar Budapest Information, mantemos o código no transponder e vamos desfrutando de um voo sem qualquer turbulência, percorremos a planície Húngara de um verde característico e pasme-se não foi pedido qualquer autorização nem obrigatoriedade em aterrar num qualquer aeródromo (como é bom voar em espaço Schengen).

Entramos na Eslovénia e contactámos Maribor e a seguir Ljubljana Information entramos nos túneis VFR e fomos fazendo reports dos pontos a medida que progredíamos, a paisagem era árida com os Alpes ao fundo a Norte-Noroeste e terreno montanhoso a Sul que já pertencia a Croácia.

Passado o aeródromo LJAJ sede da Pipistrel vislumbramos o Adriatico e passamos a frequência de Ronchi, o sotaque italiano é inconfundível, identificámo-nos é nos atribuído novo código transponder e pasme-se também não somos obrigados a aterrar num qualquer aeródromo nem tão pouco temos de mostrar identificação. Prosseguindo para sul passamos para a zona de Veneza com muito tráfego VFR, um deles um Francês num C152 que teimava em sobrevoar a vertical de Veneza, ao qual o ATC ia negando pacientemente, deve ser o prato do dia. A sul de Veneza voltamos para Oeste e percorremos o norte de Itália numa zona plana mas com muita turbulência e uma bruma muito cerrada.

Com LILH Voguera à vista passamos à frequência local mas não havia ninguém do outro lado, depois de aterrar fomos ao edifício da torre e verificamos que estava encerrado, passados poucos minutos aparece um italiano de mota que nos diz que à segunda feira não há ninguém para abastecer mas para irmos ao hangar da outra extremidade da pista que havia lá gente. Lá fomos, cansados cheios de sede e com pressa porque o sunset podia e muito limitar a perna seguinte.

Após várias tentativas falhadas em falar em inglês apesar da simpatia e disponibilidade dos italianos que nos ofereceram água e ice-tea vem uma jovem italiana que falava inglês e sugeriu levar-nos à bomba de combustível com jerricans e trazer gasolina. Enquanto o Matos submetia o plano de voo eu fui buscar o combustível.

Abastecidos e com pressa despedíamo-nos com um grazzie e ainda antes de entrar na pista para descolar reservo hotel no Booking.com em Torreilles, adoro estas modernices.

Descolámos em direcção a costa evitando as serras mais altas e pudemos verificar que o terreno era montanhoso até ao mar, o que nos obrigou a subir até 6000ft (nível de transição era 70). Chegados a costa pedimos 2500ft e fomos passando por San Remo e por uma costa muito bonita que infelizmente estava com uma bruma que limitava a visibilidade, mas sempre dentro dos limites.

Entramos em território Francês já com Nice Information e aqui também não precisamos de ir aterrar num qualquer aeródromo nem tão pouco pedir autorização prévia (que coisa estranha estes países ditos desenvolvidos não terem estes requisitos) entrámos nos túneis VFR da Côte D’Azur passamos pelo Mónaco com uma vista que só os aviadores tem o privilégio de poder usufruir, continuamos por Nice e somos instruídos a voar a 500ft…a aproximação do aeroporto assim obriga. Quando estamos abeam do aeroporto ouvimos um inglês característico….era um Tap que estava a entrar na final, também eles devem ter estranhado em ouvir um CS a voar bem perto deles. Prosseguimos por Cannes e começamos a deixar de usufruir da paisagem para começarmos a preocupar com duas questões: as nuvens baixas que estavam a acumular-se nas serras junto ao mar e o Sunset, imprimimos um regime de 5500rpm sempre a tentar subir a 1500ft algo que só nos autorizaram em Saint Tropez. Continuamos a viagem sempre com 5500rpm mas com uma VT de 100 kts e uma VAI de 230 Km, estávamos claramente com muito vento contra e o Sunset a aproximar-se. Passámos Marselha e depois contactámos Montpelier que nos acompanhou até termos Torreilles à vista, ainda tínhamos 30 minutos de luz mas a componente de vento podia ter sido mais favorável.

Aterrados e com ajuda de um senhor que tinha um camião onde dormia com a esposa fomos de táxi até a pequena vila para a pensão para tomar um banho e ir jantar….isto se houvesse lá alguém, afinal as modernices também tem falhas, fomos para o centro da vila para comer e tentar encontrar uma solução.

Durante o jantar pedimos ajuda à dona do restaurante que fez o favor de falar com o dono da pensão que veio ter connosco ao fim de dez minutos com mil desculpas, a reserva foi feita tarde e não havia mais ninguém pelo que assumiu que podia fechar… sem problemas pelo menos haveria uma cama para descansarmos para a etapa final .

Dia 4 : 09-06-17

No dia seguinte e com plano de voo submetido com muita dificuldade devido á linguagem descolamos em direcção a Espanha pela costa.

Despedíamo-nos de França e contactámos Girona com os Pirenéus a nossa direita e Barcelona ao fundo a esquerda, prosseguimos e passamos Saragoça. A partir daqui entramos numa planície sem fim, árida e com pouca vegetação. Até Matilla, LMTE foi um voo com alguma turbulência e com dificuldades em contactar Madrid, fomos sendo ajudados por um Tap e um AirEuropa com relay e na TMA de Madrid baixamos para 500ft AGL até aterrar em LMET. O ATC de Madrid Info despediu-se com um “adeus!!“…simpatia e cordialidade de nuestros hermanos. Coisa estranha já não vinha a Matilla há dois anos e verifico que o restaurante sofreu uma grande remodelação infelizmente a comida sofreu um downgrade.

Abastecemos e submeto o plano de voo no Aro de Lisboa. Finalmente uma voz portuguesa do nosso próprio país…que maravilha:

– “Boa tarde, queria submeter um plano de voo etc…”

– “Aeródromo de partida?”

– “LMET!…”

– “Tem autorização???”

– “Tenho sim é o número XXXX”

– “Ahhh bom!!..é que senão terminava já aqui!!!…”

Fantástico!!! Sem palavras!!! É indescritível a simpatia e o apurado cuidado em fazer-nos sentir bem recebidos no nosso país, imagino o que um estrangeiro deva sentir ao ser confrontado com esta situação….

Descolámos em direcção a LPCB, Castelo Branco e ao aterrar somos informados que temos uma comitiva à nossa espera, ainda pensei que fosse um amigo qualquer mas não, um senhor e uma senhora do SEF que pacientemente perderam sem dúvida várias horas para nos identificar….tempo bem empregue e que muito me honrou, nunca tive o privilégio de ser recebido com tanto cuidado e atenção!

Descolámos em direcção ao Campo de Voo de Benavente pela rota habitual evitando a D25 e Ponte de Sor, aterrando em segurança em CVB.

Para o ano há mais ….

Matos, um muito obrigado…:-)

[spacer height=”20px”]

Bruno Águas. 01 de Julho de 2017. Fotos do autor.

Nota Cavok.pt – O artigo publicado é da responsabilidade do seu autor e não compromete ou vincula o CAVOK.pt aos conteúdos, ideias ou intenções. O autor do artigo não recebe, nem irá receber qualquer compensação directa ou indirecta, referente à opinião expressa. O CAVOK.pt não interfere ou analisa o conteúdo pelas ideias, opiniões ou intenções mas apenas ajusta a formatação gráfica do mesmo.

[spacer height=”20px”]
[foogallery id=”12114″]