Céus de Portugal: um espaço aéreo multicultural

Os sotaques deixam adivinhar. As pronúncias não enganam.

O inglês aeronáutico que entra e sai pela radiofonia aeronáutica em Portugal vem das mais diferentes partes do mundo.

Realçam-se aqui alguns dos problemas associados à língua “oficial” da aviação.

O inglês tem cerca de 40 dialectos. A estes juntam-se as versões regionais e as variações locais. Faltam, entre outros, os oxímoros, o calão e as palavras homófonas.

A língua inglesa tem, portanto, espaço para umas quantas ambiguidades e outras tantas dualidades, podendo ser mesmo confusa.

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Ainda assim, a ICAO recomendou, em 1951, através do Anexo 10 à Convenção de Chicago, o uso do inglês como língua universalmente utilizada nas comunicações internacionais de radiotelefonia aeronáutica.

No entanto, a conjugação de alguns dos factores mencionados atrás com o desconhecimento e/ou a má utilização do inglês, continua a dar lugar a incidentes e a acidentes, alguns deles muito graves.

Competirá, então, a todos os intervenientes nas mais diversas áreas da aviação, o exercício de julgamento da adesão (ou falta dela) ao que está estabelecido para as mesmas, ainda que a título de recomendação.

No caso concreto, a utilização do inglês nas comunicações aeronáuticas.

Tal como acontece em toda e qualquer parte do mundo, a tendência natural e tentadoramente mais cómoda para os nativos de língua portuguesa a voar em espaço aéreo português será a de efectuar essas comunicações em Português.

Contudo, em espaço aéreo português fala-se quase (…) sempre em inglês, tal como se verifica de forma bem notória nas frequências dos sectores de Lisboa MIL.

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Essa boa prática, enquanto parte de um dos pilares fundamentais do voar (“Aviate, Navigate, Communicate“), deverá ser mantida e reforçada.

Essencialmente porque, tal como acontece em Portugal, mesmo com uma formidável cobertura radar e com um Serviço de Informação de Voo excepcional, há situações em que as comunicações bilaterais directas entre aeronaves a voar em áreas muito localizadas e específicas de tráfego aéreo são o único garante de operações aéreas seguras.

O que se torna crítico com a grande profusão de actividade aérea no espaço aéreo G e nos aeródromos não controlados nele situados, actividade essa levada a cabo por utilizadores que, no âmbito e no contexto do voo, falam apenas inglês.

Desse modo, bastando as possíveis confusões com a homofonia de “to“, “too” e “two“, compete a todos, per se e como comunidade, continuar a tratar a segurança de voo por “tu”, significando que esta continua a ser particularmente querida, próxima e presente nos céus de Portugal.

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Pedro Cruz. 27 de Fevereiro de 2017. Fotos por William Hook, Stefan Rayner, Syd Washs e Geatano Cessati.

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