Uso dos Checklist nos planadores

Todos nós sabemos qual a importância do uso dos checklist nas operações com aeronaves, sejam elas planadores ou aviões comerciais, mas mesmo assim, nunca é demais relembrar a sua real importância nas operações de voo-à-vela, principalmente no que diz respeito aos alunos ab-initio.

Infelizmente é bastante comum pensarmos no uso dos checklists, como algo que só existe na aviação comercial e que os pilotos com muita experiência não perdem tempo a tirar o total partido da sua utilidade, mas essa ideia é completamente errada e desajustada em relação aos dias que correm, pois com o avanço da tecnologia actual e no que diz respeito a sistemas aviónicos, tal como dos próprios planadores e das suas performances cada vez mais avançadas e também, devido às exigências relacionadas com o espaço aéreo o qual por vezes está já muito saturado.

Por esse motivo o workload dos pilotos é cada vez maior e há a necessidade de existirem alguns auxiliares de memória, pois sabemos bem que o piloto integrado na vulgarmente chamada cadeia do erro é sempre o elo mais fraco de todo o sistema.

Claro que os checklists como possíveis auxiliares de memória não substituem de modo algum, o conhecimento que o piloto deverá ter da sua aeronave e de tudo o que a ela diz respeito à sua operação eficiente e segura. Nada substitui o manual de voo da mesma e o seu estudo aprofundado, o qual deverá ser tratado pelos alunos-piloto como se de uma bíblia se tratasse.

A principal função do checklist é dar a possibilidade ao piloto de ter uma forma simples e eficaz de confirmar todos os itens que são necessários efectuar em cada fase do voo e desta forma, libertar uma boa parte da capacidade de processamento de informação da sua mente , bem como diminuir a carga de trabalho à qual os ingleses chamam de workload e claro está, libertar os muito preciosos recursos cognitivos para outras acções mais exigentes que se nos deparam no decorrer de um voo.

O vôo de Planador

O checklist é composto por várias partes as quais contemplam as diversas fases do voo e incluem os itens relevantes para as mesmas, os quais terão de ser observados obrigatóriamente em cada uma destas fases distintas do voo; itens esses, que como bem sabemos, são de extrema importância e os quais normalmente na eventualidade de serem ou não efectuados, fazem a diferença entre um voo normal e um “espatifanço” valente. Por isso mesmo, nunca em caso algum, deveremos descurar a sua correcta utilização, pois a nossa vida e a de outros poderá em grande parte depender disso.

Tendo em conta a minha experiência pessoal, recomendo vivamente que o mesmo seja efectuado de forma o mais expedita possível, mas sempre com os devidos cuidados. Um dos erros mais comuns é o de saltarmos involuntariamente alguns itens, os quais podem comprometer gravemente toda a segurança do voo. Por esse motivo é importante criar um boa dose de auto-disciplina com o uso dos checklists (e não só), auto-disciplina essa que com um pouco de esforço virá a melhorar a nossa proficiência como pilotos de uma forma significativa ao longo do tempo.

É boa pratica aeronáutica a leitura dos passos do checklist em voz alta, mesmo se estivermos sózinhos dentro do planador e para quem nos vê de fora a falar sozinhos, perceber que estamos a fazer correctamente todos os procedimentos. Recomendo também que se toque fisicamente nos itens a serem verificados, pois ao agirmos dessa forma ajuda-nos a uma melhor interiorização das acções necessárias o que ajudará a uma certa “automatização” dos processos.

Como por vezes o “parceiro” do banco de trás é também um piloto, é necessário que também ele esteja a par das acções e das intenções do piloto do lugar da frente, quer o mesmo seja muito experiente ou ainda um aluno na fase de pré-largada. Por isso há a necessidade da correcta verbalização das acções para se evitarem equívocos ou ambiguidades. Um bom exemplo disso é que nunca deverá haver qualquer tipo de dúvida em relação a quem tem fisicamente o controlo da aeronave. Por isso existe como procedimento um método standard para uma adequada transferência de comandos entre dois pilotos de forma segura e inequívoca.

Nunca será de mais reforçar a ideia, que tudo isto também tem a ver em parte com o tão falado e muito importante trabalho de equipa nas actividades de voo-á-vela, pois a sua importância não se resume só às actividades exteriores ao cockpit do planador.

Estas são algumas regras básicas das boas práticas aeronáuticas e do uso do checklist, as quais deverão ser seguidas por todos nós independentemente do nosso grau de experiência, pois todos nós temos de ter um papel activo a favor da segurança.

Tudo isto faz parte do trabalho de equipa, seja em voo ou na placa aeródromo.

Pedro Ferreira. 11 Julho 2016. In PLANADOURO magazine.

Nota CAVOK.pt – O conteúdo da divulgação é da responsabilidade do seu autor ou autores expressos e não compromete ou vincula o CAVOK.pt aos conteúdos, ideias ou intenções. O CAVOK.pt não recebe, nem irá receber qualquer compensação directa ou indirecta, referente aos conteúdos. O CAVOK.pt não interfere ou analisa o conteúdo pelas ideias, opiniões ou intenções mas apenas ajusta a formatação gráfica do mesmo. O conteúdo da divulgação terá que chegar ao conhecimento do CAVOK.pt através do e-mail cavok.pt@gmail.com ou pelo formulário “CONTACTE-NOS“.