"O Espírito nunca aterra"…

O Espírito nunca aterra“…

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E se se materializasse, seria certamente uma ave…

O espírito tem o poder e a velocidade de um falcão, a resiliência de uma cegonha, a bondade e a generosidade de um pelicano, a determinação de um pica-pau, a majestade de um condor, o encanto do canto das aves canoras, a argúcia de uma coruja, a capacidade da fénix para renascer e para se reinventar e renovar…

Até pode ter um lado obscuro de abutre… Mas mesmo as penas dos abutres cheiram a uma mistura de pó de talco e de roupa lavada acabada de engomar!…

Acima de tudo, encerra em si o valor fundamental maior que é a liberdade: tal como um pássaro, o espírito não se deixa prender… se o tentam fazer, revela-se o carácter indómito do espírito que, como uma águia, voa ainda mais alto no meio de uma tempestade…

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Há algum tempo atrás fui brindado com uma lição acerca do espírito que voa nas asas da liberdade e que lhe dá vida…

O jardim da parte de trás do prédio onde vivo é um autêntico ecossistema: tem relva, árvores, arbustos e plantas, todos regados e adubados com zelo pelos canídeos que também vivem no prédio!

Há ainda gatos das pantufas (são demasiado caseiros para usarem botas!) que tentam caçar os muitos pássaros que por lá esvoaçam!
E por entre tanta animação, eis que num dia de manhã ganhei quatro novos amiguinhos!
De chávena em punho, repleta daquele café técnico da manhã que afina a voz de bagaceira e afoga aquela moedeira matutina que nos faz pedir licença para pensar, reparo, pela janela da cozinha, em dois pequenos pássaros a fazer uns voos artístico-acrobáticos.

Voavam de forma graciosa e fintavam com mestria as formas do prédio.

Comecei a verificar que, a cada circuito, faziam uma passagem um nadinha mais demorada pela parte lateral da janela de onde os observava.

Dado o padrão, recorri a algumas técnicas do Homem-Aranha para vencer o ângulo morto resultante da parede e para tentar perceber a razão daqueles desvios.

Foi então que dei com quatro bolinhas de penas penduradas na janela da sala!
Quatro crias já relativamente grandes e que ali estavam a ser alimentadas pelos pais!
Ficavam encolhidas, talvez com algum frio devido à aragem fresca da manhã e por estarem num sítio à sombra.
No entanto, entravam em alvoroço de cada vez que um dos progenitores se aproximava com comida!

Resultado: o ecossistema ficou mais pobre no que a insectos diz respeito!!!

A certo momento, um dos adultos fez um chilreio diferente e mais forte e os quatro pequenotes lançaram-se para o vazio sem qualquer hesitação!
De certeza que foi a mãe porque “mãe é mãe”!

Depois de uns brevíssimos momentos a dar às asas de modo ainda atabalhoado e sem se afastarem muito, regressaram à segurança da beira da janela!

Nisto, creio que os adultos se aperceberam que tinham alguém a assistir e sem pagar bilhete!
Decidiram começar a ralhar comigo, pelo menos a julgar pela nítida agressividade e pelos sons estridentes que faziam ao passar junto à janela onde eu estava!

Calma, minha senhora: estava só a ver se os putos estavam bem!!!

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A dada altura cheguei a contar 4 ou 5 adultos mas acabou por só lá ficar um: certamente a matriarca!

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Podia não trazer comida mas, por entre o vai-e-vem frenético, passava sempre junto à janela a ver se estavam lá todos e bem!
Foram uns minutos deliciosos e uma verdadeira demonstração da Natureza e dos instintos naturais no seu estado mais puro!
Com esta lição voltei a aperceber-me da insignificância e da fragilidade da vida.

O Homem continua a ser obtuso de mais ao insistir na ideia de que controla esta casa que não é, nunca foi, nem nunca será nossa.

A Natureza não a alugou nem tão pouco a emprestou: teve a amabilidade de nos dispensar a Terra por tempo desconhecido.

Basta a Natureza aborrecer-se a sério (falarei disso nos próximos textos!) e somos despejados sem aviso prévio!

O inquilino Homem pode tentar acabar com o que o rodeia e consigo próprio mas… tal como já aconteceu por várias vezes, a Natureza arranja sempre uma forma de voltar a encontrar o seu equilíbrio…

É que se não houver uma árvore para fazer um ninho, pelo menos haverá sempre uma cavidade num rochedo… ou a beira de uma janela para tratar da pequenada e para ensiná-la a voar!

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Por Pedro Neves Cruz. Fotos por Luís Malheiro