Puxando pela minha fraca memória..
Comecei o meu percurso de aficionado (palavra muito feia mas não encontro outra, talvez apaixonado..) pela Aviação e Exploração Espacial, quando em criança fui viver para os Estados Unidos acompanhando o meu Pai que era Cientista Convidado no Instituto Nacional do Cancro em Washington DC.
Estamos a falar dos primeiros anos da década de 60 do século passado, época da Guerra Fria, onde nos USA, JFK- John Fitzgerald Kennedy era o novo presidente.
Foi uma época incrível de descoberta e de sensação de participar numa nova época, em que a exploração espacial e a Aeronáutica tinham um papel vital.
Senti na pele o medo das pessoas durante a crise dos mísseis em cuba, com o possível início duma guerra atómica.
Um dos objectivos do Presidente Kennedy era colocar o homem na Lua como o Projecto da década, que veio a impulsionar todo um conjunto de descobertas que muitos desconhecem e usam todos os dias.
Nessa época como criança rapidamente fui contagiado por este gosto pela aeronáutica, dado que nesse país a Aviação e o Espaço tinha um papel central. Os miúdos como profissão não queriam ser bombeiros nem polícias, queriam ser pilotos ou astronautas.
Na escola e pelos pais, eramos estimulados a fazer visitas aos principais museus espaciais e aeronáuticos existentes, o que era um Programa a sério. Não esquecer que a questão da revolução do Museus e da Expo 98 que testemunhámos, do museu vivo e da interactividade com o público, nos anos 60, já era uma prática corrente.
Assim o Smithsonian Institute por intermédio dos seus diversos museus em Washington DC teve um papel importante na minha adição à Aeronáutica e à História de facto. Assim fui muitas vezes fazer visitas aos diversos museus, destacando o museu da Aeronáutica, o actual National Air and Space Museum, para além outros inúmeros museus noutras cidades dos USA.
Nas deslocações entre cidades viajávamos na TWA e na PANAM em aviões como o Superconstellation, DC-8, DC-9 e por fim no Boeing 707.
Assim como consequência, desde pequeno o meu único dote em termos de desenho, era desenhar aviões.
Assisti com muita tristeza ao assassinato de JFK em Dallas pela Televisão e fui ao seu funeral, uma manifestação única de pesar que parou o País..
Depois desta primeira experiência de alguns anos, regressei a Portugal, nessa terra na altura muito atrasada, com um ensino retrógrado, em que como canhoto, foi um desastre até conseguir escrever com tinta permanente, sem borrar completamente o papel..
Passados alguns anos no fim dos anos 60 e no princípio dos anos 70 do século passado, começa a minha segunda aprendizagem na aeronáutica, com a vinda para Portugal de inúmeros pilotos brasileiros de aviação comercial vindos da Panair a convite e para reforço da TAP, na altura em expansão, devido principalmente às suas ligações ultramarinas e aos novos aviões Boeing 707 adquiridos.
Assim na escola os meus colegas e amigos, passaram a ser filhos de comandantes brasileiros da TAP. Rapidamente criámos uma boa relação entre as diversas famílias e passei a ter acesso a um mundo novo de pilotos com dezenas de milhares de horas de experiência, tendo alguns a sua formação inicial sido, como pilotos de caça na marinha dos Estados Unidos, tendo combatido no Atlântico em Wildcats e aviões similares.
Assisti à noite às suas histórias de combates durante a II Guerra Mundial contra pilotos alemães e o detalhe de ter sido abatido no Atlântico Norte, os ferimentos que sofreu e como foi socorrido, enquanto me mostrava as fotos, os óculos de combate e os auscultadores que usara durante a guerra.
Nessa época comecei o meu mau hábito de deitar tarde e beber Whiskie com gelo e soda à lá USA..
Assim fiquei viciado na História da Aviação e presenciei o começo da aviação comercial em Portugal nos aviões a jacto, no qual o Boeing 707, era para nós o sonho total.
Ia á casa dos pais dos meus amigos e pedia os manuais de operação das aeronaves para começar a perceber como funcionavam aquelas máquinas, o que me proporcionou ganhar conhecimentos mais técnicos sobre as aeronaves da época.
Tive nessa época várias experiências de võo no cockpit, e à direita, com os pais dos meus amigos, destacando o Comandante Ferraciolli, que pilotava, aterrava, enquanto falava comigo, fumava um cigarro, bebendo o seu copo de vinho, enquanto contava a sua fantástica experiência de piloto..
O meu “clímax” foi quando me colocou à direita, desligando o piloto automático e deixando-me fazer uma pequena volta com a aeronave aos meus comandos em võo de cruzeiro..
Na altura voava-se alto e bem mais rápido que hoje..
Foi para mim uma época heroica onde o Comandante era alguém com uma experiencia brutal e que com uma autoridade que me parecia inata, mandava mesmo no avião (o avião fazia o que ele queria e não o contrário) e na equipa, aliás era norma ele de tempos a tempos, desligar o piloto automático e voar à mão, aquilo que hoje em dia falta à maioria.. (muitos não devem saber, que pilotar à mão a 12.000Km de altitude, é só para muito poucos)
É evidente que a segurança e a qualidade na aviação entretanto melhorou muito, mas a experiência de võo propriamente dito, tem diminuído.
A continuar..
David Ferreira
12/09/2015