Preito a Anneliese.

A única piloto-aviadora portuguesa a voar no Bebé. Era volovelista e, entre muitos feitos, participou numa corrida aérea feminina, no Reino Unido onde conquistou um honroso lugar na classificação geral.

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Ela foi a única piloto-aviadora portuguesa a voar no Bebé. Tratava-se de um pequeno avião ultra-ligeiro, monolugar, construído entre 1959 e 1964 por quatro sócios do Aero Club de Portugal e no decorrer de três mil e quinhentas horas de trabalho nocturno, após os seus afazeres como empregados de escritório. Somente a entelagem e a instalação do motor foram efectuadas por profissionais.

A selecção dos pilotos candidatos à utilização do aparelho era objecto de análise cuidada, sendo uma das condições impostas a obrigatoriedade do brevetamento em “Tiger Moth” ou um período de adaptação ao mesmo.

Num curto parêntese, o “Tiger” foi criado pelos ingleses em 1931, tendo servido para a formação de pilotos na “Royal Air Force” e, posteriormente, de congéneres da “Aviação Militar” em Portugal, até ser considerado obsoleto e depois cedido aos aeroclubes nacionais.

A exigência comparativa justificava-se devido ao facto do “Jodel” e o “Tiger” terem alguns pontos em comum: ambos eram aeronaves de cabine aberta (só mais tarde o “Jodel” foi cabinado) e não dispunham de motor de arranque nem de travões – a aterragem era obtida por meio de um patim de arrastamento, na cauda.

O “Jodel” foi equipado com um motor de automóvel (Volkswagen 1200Cc) transformado nas Oficinas Gerais de Material Aeronáutico, em Alverca atingindo na velocidade de Cruzeiro os 130Km/h. Quanto ao lançamento do motor, os pilotos diziam ironicamente que era “d’ar” (dar à hélice, manualmente…) o que requeria, por vezes, esforço físico e persistência. Noutra vertente dava-se preferência aos pilotos que tivessem “brevet” de voo-à-vela, já que em caso de falha mecânica (nunca sucedida em vinte anos de operação) o “Jodel” podia, como em qualquer outra aeronave, fazer o voo planado e aterrar.

A Anneliese era também volovelista e no seu palmarés da especialidade constava um estágio no Centro Nacional da Montanha Negra, em França, levando-a a efectuar em portugal um voo de seis horas em planador perto de 80 quilómetros no Alentejo (com o mesmo tipo de aparelho) o que lhe valeu a atribuição dos distintivos de prata pela “Federação Aeronáutica Internacional” – os em primeiros concedidos a uma aviadora portuguesa,  na modalidade.

No voo motorizado veio a participar numa Corrida Aérea Feminina, no Reino Unido – 160 quilómetros em circuito fechado e em parte sobre o mar conquistando um honroso lugar na classificação geral.

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Face a toda esta experiência, o voo de largada no “Jodel“, sozinha (não cabia lá mais ninguém…)  decorreu perfeitamente, ganhando assim a muito justa designação que lhe atribuímos nas primeiras linhas desta breve crónica.

Convenhamos que para voar num avião com motor de automóvel e construído por empregados de escritório, era necessária uma inabalável firmeza de ânimo.

Uma outra faceta da Anneliese tem a ver com a sua colaboração na, Revista do Ar, onde, durante dez os anos, manteve uma “Página”  denominada “Da Mulher e da Aviação” dando a conhecer numerosas aviadoras que se distinguiram pelos seus feitos nos céus de todo o mundo.

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Um percurso notável. Longa vida para ela.

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Abílio Matos, como em Revista do Ar do Aero Club de Portugal. Fotos, do arquivo pessoal de Duarte Fernandes Pinto.

O CAVOK.pt aconselha também a ver o programa “Voar” onde Anneliese participa CLICANDO AQUI. 

(N.R.- O avião preferido de Annaliese era Tipsy Nipper (CS-AJN)…voando também muito em Auster e Cub. Participou na Volta à Europa de 1971 e ainda num rali aéreo na Grécia…)