Uma espécie de reportagem – Operação Eye in the Sky

No dia 28 de Março, o CAVOK.pt foi convidado para estar presente na ante-estreia em Portugal do filme Eye in the Sky, do qual aqui damos conta.
 
Previamente ao visionamento do filme foi apresentado um painel de debate moderado pelo Jornalista Henrique Monteiro (Expresso) que inclui alguns especialistas em Portugal no estudo sobre esta temática.
 

  • Felipe Pathé Duarte (Instituto Superior de Ciências Policiais e Segurança Interna)
  • Francisco Proença Garcia (Universidade Católica)
  • Bruno Cardoso Reis (Instituto de Defesa Nacional)
  • Pedro Mendonça

 
CAVOK.pt
O tema da conversa de 45 minutos, enquadrado nos limites morais no emprego das novas tecnologias e enquadrava-se nos tópicos da agenda:
 

  • Os novos desafios éticos que se levantam com as novas tecnologias;
  • As diferenças que se colocam aos decisores políticos e militares;
  • Devem as decisões ser tomadas a milhares de quilómetros de distancia?;
  • Como controlar as novas ferramentas de inteligência?.

 
Nas intervenções dos diversos oradores podemos destacar algumas temáticas deveras interessantes resumidas, recorrendo a palavras e a alguns conceitos, de forma simplificada:
 
A morte à distância, pressupõe poupar o atacante de baixas, mas existem os danos colaterais a considerar e a ponderar.
 
Com a evolução tecnológica, desde a invenção da espingarda e da bala até á invenção do drone, aumenta o controlo e aumenta a distancia.
 
Aumentando a distancia a que se combate, verifica-se uma “higienização emocional”, desumanizam-se as vítimas. A emoção e a vista ao inimigo, desaparece.
 
Nos ataques, com drones ofensivos americanos, no Iraque e no Afeganistão, as mortes civis situam-se entre 10% e 50% entre as baixas verificadas. Existem sempre danos colaterais e vítimas inocentes são atingidas.
 
Apesar de ser um combate á distância, no caso dos aviões bombardeiros, discriminam muito menos do que os drones, em que, ao contrário do que se poderia pensar, o piloto do drone sente e observa o terreno de forma eficaz e precisa, com uma capacidade de visão amplificada enorme do terreno.
 
O uso de drones militares, inicialmente usados pelos USA, UK, França está a diversificar-se por inúmeros países que agora começam a usá-los e a testá-los em operações militares. Os Drones têm uma eficácia enorme em operações de vigilância.
 
A utilização deste tipo de tecnologias provoca uma “nova ontologia do soldado” com uma alteração e aumento da percepção do inimigo.
 
Esta realidade virtual provoca uma “hiperrealidade – realidade singular” em que se presencia o quotidiano do inimigo.
 
Com esta “Higienização da guerra” temos o principio do desaparecimento do soldado e da heroicidade.
 
Uma “Pós humanização da guerra” com a alteração da dimensão ética da guerra.
 
No entanto com os fenómenos do extremismo dito-religioso e do Jyadismo, o guerreiro ocidental está a ficar “baralhado”. Por cada operação ofensiva com drones, mais inimigos surgem.
 
Não existindo acompanhamento psicossocial das vitimas dos ataques dos drones, cada ataque provoca o surgimento de novos combatentes, com o desejo de vingança.
 
Uma legalidade muito discutível, a actual em muitos casos, na utilização ofensiva de drones em países não beligerantes.
 
Não traz a paz. “A guerra sem sujar as mãos, origina mais guerra”.
 
Após este breve debate sobre o tema proposto deu-se o visionamento do filme:
 
Eye in the Sky (2015)
 
Duração: 1h 42m
Director:  Gavin Hood
Escritor: Guy Hibbert
Artistas: Helen Mirren, Aaron Paul, Alan Rickman
 
A Coronel Katherine Powell (Helen Mirren), um oficial em comando de uma operação para a captura de terroristas no Kenya, vê a sua missão escalar quando uma rapariga entra na zona de morte, despoletando uma disputa internacional sobre as implicações da guerra contemporânea.
 
Bibliografia: www.imbd.com
 
 
O filme é de acção, envolvendo o espectador desde o primeiro momento até ao final. Aborda a intricada moralidade da guerra, efectuada por drones e transporta-nos para um longo e “stressado” dia, para aqueles que têm de decidir entre a vida e a morte.
 
O “focus”, é a caça aos membros chave de um grupo terrorista Al-Shabaab. Quando 3 dos elementos chave deste grupo terrorista se reúnem, é lançada uma missão para capturar ou eventualmente matar estes elementos.
 
O espectador testemunha os eventos dessa operação nas diferentes e remotas localizações em que os intervenientes se localizam.
 
No terreno, no Kenya temos a polícia e espiões a fazer o trabalho de recolha de informações, em UK temos o Coronel e sua equipa que dirigem a sua operação, nos USA temos os pilotos de Drone nos seus postos, em Londres temos o General em diálogo e negociação permanente com os políticos dos países envolvidos e por fim temos os civis que circundam o objectivo e que “dificultam” a tomada de decisão na operação.
 
Mostram-nos que a guerra “por écrans”, permite de facto ver o quotidiano do inimigo e antecipadamente as suas vítimas.
 
Os actores são eficazes, destacando-se claramente a Helen Mirren (Coronel) e Alan Rickman (General) como excelentes.
 
Bibliografia: http://www.theguardian.com/film/2015/sep/12/eye-in-the-sky-review-helen-mirren-gavin-hood-drones-tiff
 
O filme deixa-nos inúmeras questões em aberto e de facto mereceu bem o debate que o antecedeu.
 
Da minha parte, aconselho vivamente o visionamento deste filme, dado que nos transporta para o mundo real da guerra à distancia e nos faz pensar no desaparecimento da ética e dos danos colaterais, quando precisamos de tomar a decisão, de como danos colaterais, matar alguns civis, para no próximo futuro, poupar muitos mais…
 
David Ferreira
 
29/03/2016