Lições e “Trambolhões” Take Five (último episódio)

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Artigo de Opinião

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Agora estamos, nos anos pós 2000,  cerca de 2007, depois de tirar o brevet de ULM 3ª Geração em Portugal, decidi comprar pela primeira vez uma aeronave nova, escolhida e configurada por mim.

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O processo foi longo, adquiri um WT-9 Dynamic, que veio para Portugal em Kit, tendo sido praticamente todo montado em Portugal.

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Como é evidente, fiz todos os erros possíveis e optei por um painel de instrumentos tipo 747, o mais avançado à época e o mais pesado.

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Tinha tudo, desde trem retráctil, painel digital, GPS, piloto automático e a cereja em cima do bolo, um hélice de passo variável de três pás elétrico com reverse!  Portanto era fantástico, era o único que fazia marcha atrás para estacionar, do melhor…

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Portanto, eram muitos muitos botões a operar e software a configurar.

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Comecei a operar a aeronave com a ajuda do meu instrutor, à altura, o Fernando Rodrigues, que me ensinou as características e formas de operar essa aeronave na altura uma das referencias do mercado em termos de performance.

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Depois de n+1 voos, comecei a operar em võo solo, nunca com acompanhantes.

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Até que um dia…. fui buscar a aeronave, já estava rotinado e não consultando o checklist, fui fazer mais um võo de laser.

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Fiz a inspecção 360º ao redor da aeronave, entrei na mesma e comecei a saga: fechar e trancar canopy, apertar os cintos, ligar instrumentos, colocar auscultadores, ver indicadores, níveis de combustível, ver afinação altímetro, frequências radio, standbye transponder, enfim um nunca mais acabar.

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Depois a componente de magnetos, ligar bomba combustível, arranque motor, aquecimento, temperaturas e pressões, ligar bomba de trem, deslocar a aeronave para fazer ponto fixo e teste de potência e magnetos, reverificar que as temperaturas e pressões está tudo perfeito.

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Seguidamente, com um dia lindo, estava tudo impecável e ao deslocar-me da placa para a pista de descolagem, dei a última vista de olhos e verifiquei, que um dos botões no painel estava para baixo e não para cima, o que há primeira vista seria o normal, numa visualização de relance.

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Instintivamente, sem pensar ou melhor sem reflectir, coloquei o dito botão para cima e para os sabedores destas coisas, mesmo os que não viram, já devem perceber o que aconteceu.. a aeronave preparada para a descolagem e com o motor a cerca de 2500rpm, afocinhou subitamente e caiu com a parte da frente para a pista, destruindo o hélice e fazendo um ruído enorme e uma poeirada dos diabos..

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Restou-me desligar magnetos, todos os componentes eléctricos, fechar torneira combustível e rapidamente sair da aeronave.

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Enfim uma cena vergonhosa… com tudo a ver claro…; o que afinal de contas aconteceu?!?

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Bem o nosso amigo, pura e simplesmente acionou o comando do trem para cima (recolher trem) e a aeronave, de facto, obedeceu imediatamente…

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Os botões elétricos, normalmente nos painéis estão todos seguidos ou muito perto uns dos outros e infelizmente nos ultraleves, o comando dos trens normalmente é mais um botão em vez da grande alavanca com a rodinha..

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Portanto eu olhei e vi que um dos botões estava para baixo, esquecendo que estava numa caixa vermelha..

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Foi desagradável, mas ninguém se magoou e foi mais desagradável ainda pelo custo da reparação e substituição do hélice.

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Infelizmente a história não acaba aqui…

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Passado um tempo, vem o hélice novo e o avião fica reparado e eu todo contente, lá vou experimentar a nova hélice e ver se estava tudo bem. Não digo absolutamente mais nada, foi tudo igual … outra vez…

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Depois destas duas sagas extremamente desagradáveis, fui estudar melhor o tema, antes de proceder à reparação e nova substituição.

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Então, nas aeronaves posteriores à minha, isto nunca poderia acontecer, porque quando a aeronave está no chão, mesmo que se coloque com a bomba ligada, o botão para cima, o trem não recolhe no chão (um micro switch impede).

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Depois existia na minha aeronave um outro pequeno detalhe, quando foi montado o painel de instrumentos, quem o montou, colocou um botão igual aos restantes botões eléctricos e não um botão específico, para este tipo de acionamento de trem, que primeiro se puxa e depois se acciona (portanto exige dois movimentos).

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Enfim depois destas cenas lá consegui chegar a uma solução eficaz que, mesmo que instintivamente tentasse acionar o botão como os outros, ele não se mexe sem um duplo movimento que sendo complexo exige reflectir.

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Lições a tirar:

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Usar sempre uma checklist própria, para a aeronave em causa e cumprir todos os seus items

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Diferenciar o comando do trem, com selectores específicos, de forma a não poder ser accionado indevidamente

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Não instalar acessórios impróprios para aeronaves

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Antes de colocar um acessório, obter informação do fabricante da aeronave, para saber se é o indicado

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David Ferreira

 

24 de Outubro de 2015

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