Aprender com a cegonha

Há quem considere o voo planado a forma mais pura de voar. O avião planador, a asa delta ou o parapente não têm motor. O seu voo baseia-se exclusivamente nas performances do seu perfil e na perícia do piloto. Todo o bom piloto, antes de descolar, observa o céu em busca de indicadores que o ajudem sobre a estratégia que deve adoptar, observar as nuvens, os fumos que lhe indicam a direcção e força do vento, a posição do sol e ….AS AVES.

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Pois é, aqui é que entram as cegonhas, excelentes planadoras, muito abundantes nas zonas húmidas junto a Santo André. No voo livre o piloto depois de descolar tem como prioridade encontrar uma térmica, ou seja uma corrente de ar ascendente. O que lhe permitirá subir umas centenas de metros, planando depois vários quilómetros. Este processo repete-se várias vezes, obtendo-se um voo de muitos quilómetros. A observação do voo das aves tais como as cegonhas brancas, poderá ser muito importante para o êxito deste voo.

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CegonhaO bater das asas requer muita energia e as aves planadoras aproveitam as correntes de ar ascendentes para poupar essa energia. Quando a cegonha encontra uma dessas corrente de ar ascendente, começa a voar em círculos para se manter nela e ganhar a altitude desejada, voando horas sem bater as asas.
Pilotos e cegonhas partilham por vezes o mesmo espaço aéreo voando juntos na mesma térmica. Os objectivos são recreativos para o homem e vitais para as cegonhas procurando correntes ascendentes de modo a prospectar o solo em busca de alimentos.
A presença do homem parece não as incomodar, elas são extremamente dóceis.

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Alguns destes encontros são sem dúvida muito marcantes, veja-se as experiências destes dois pilotos:
J. M. González (parapente) – “um dos acontecimentos que mais vivamente ficaram gravados na minha memória, foi de uma ocasião em que voei em formação com um abutre (três metros de envergadura). Ali estávamos, um homem com asas artificiais que lhe permitiam voar e um planador perfeito, fruto de milhões de anos de evolução juntos na mesma ascendência…durante uns instantes, a maravilhosa ave olhou-me nos olhos…em que pensaria…?”

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Robin Hamilton (asa delta) – “Olho ao meu redor, bosques e mais bosques, as cristas rochosas estão aquecidas pelo sol mas ficam fora do meu alcance. Prevejo uma aterragem e caminhada de várias horas. Uma cegonha passa junto a mim, onde irá ela? Sigo-a até uma parede rochosa que está aquecida pelo sol, mas só vejo bosques…. nem sequer tenho vento para fazer voo de ladeira…tem de haver algum truque, uma cegonha procura sempre uma alternativa para não ter de bater as asas, de mais a mais um exemplar já velho…perdemos muitos metros de altura. Lá em baixo só há pinheiros e a aterragem possível está longe. A cegonha segue em frente sem hesitar. Tenho de tomar uma decisão…que fazer? Olho para a cegonha e imploro “por favor…tira-me daqui!!!!”. Justamente no momento em que ia dar a meia volta vejo a cegonha a iniciar uma volta, depois outra…a cegonha tinha encontrando uma térmica, entro na corrente ascendente desesperado e uffffff!!! Começo a ganhar altura, já não terei de aterrar no bosque!”
Nota: Robin Hamilton, conseguiu chegar ao goal e ganhar a respectiva competição.

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José Boieiro