O meu primeiro passageiro…

Já publiquei várias vezes este artigo, mas por considerar que é sempre actual e cada vez mais pertinente, aqui vai novamente.

O meu primeiro passageiro…

Quando recebemos o nosso brevet, levarmos a passear um familiar ou um amigo torna-se a etapa seguinte. De facto este nosso hobbie permite-nos oferecer uma experiência única e até de certa forma um privilégio de poucos. Poder oferecer a outros uma experiência de voo, é bem vistas as coisas, uma opção apenas disponível desde há poucas gerações. Para um piloto não existe nada mais gratificante que poder proporcionar a oportunidade de voar a pessoas que nunca o fizeram.

De qualquer modo e porque certamente se pretende que essa seja uma experiência gratificante quer para o passageiro, quer para o piloto, deixo aqui algumas noções que o podem ajudar para esse momento:

  • Deixe que seja o seu amigo ou familiar a dizer, “Eu quero voar !”. Nunca force, nem convença ninguém a voar.
  • Evite passeios longos. Um passeio de 10 a 15 minutos é o ideal, não opte por pernas superiores a 30 minutos.
  • Escolha um dia agradável para voar. Com pouca turbulência e boa visibilidade. Lembre-se que para si podem ser apenas pequenos “buracos na estrada”, mas para o seu passageiro será certamente a maior turbulência que já alguma vez sentiu.
  • Tenha já preparado um pequeno percurso, com alguns pontos de interesse já conhecidos. Se optar por um passeio um pouco mais longo, certifique-se que tem vários aeródromos alternativos pelo caminho. Pode ter que vir a os utilizar.
  • Tenha sempre à mão do seu passageiro, alguns sacos para o enjoo, mas não precisa de lhe dizer que os tem.
  • Leve o seu passageiro a dar uma volta pelo avião, explique-lhe o papel de cada superfície durante o voo, mas certifique-se que faz a inspecção sozinho e concentrado.
  • Já dentro do cockpit mostre ao seu passageiro todos os instrumentos e as suas funções. Explique-lhe como vai pilotar o avião, as várias fazes do voo, as comunicações e as interacções com os outros aviões, isto colocará o seu passageiro mais descontraído para qualquer acção que você venha a efectuar.
  • Explique-lhe como deve apertar e desapertar os cintos e como deverá proceder para sair da aeronave em caso de emergência.
  • Explique que vai comunicar com outros aviões, ou comunicar no rádio mesmo que não existam outras aeronaves e que as comunicações de rádio são mais importantes que as de cockpit para que o seu passageiro não fique surpreendido se o tiver de mandar “calar”.
  • Antes sequer de descolar explique o que é um borrego, que se trata de uma operação normal. Deste modo o seu passageiro não ficará sobressaltado se o vir a abortar a aterragem.
  • Comece por efectuar um circuito ao aeródromo de onde descolou, se o seu passageiro se sentir confortável poderá então prosseguir o passeio.
  • Efectue um voo calmo e sereno, com voltas suaves e pouco acentuadas. Pretende-se que este seja o primeiro voo de muitos.
  • Não efectue manobras de treino ou de “exibição”, garanto que o seu passageiro sabe que você sabe voar, de outro modo, não estaria ai ao seu lado. O seu passageiro poderá ser um viciado em adrenalina, mas você, se for um piloto consciente não o deverá ser.
  • Evite dar os comandos da aeronave ao seu passageiro, mas se o fizer assegure-se que o faz em dias sem turbulência, em voo estabilizado e com altitude de segurança ao chão e nunca nas fases criticas do voo. Explique ao seu passageiro que os comandos de voo são para ser operados de modo suave e sem pressão. A maioria das pessoas pensa que é necessária uma força enorme para operar os comandos de uma aeronave.
  • Lembre-se que para o seu passageiro a aterragem é sempre o ponto mais stressante. Assegure-se que lhe explica o processo. Concentre-se e tente efectuar aquela aterragem !

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Lembre-se:

Um passageiro é um factor de desconcentração.

Assegure-se que conhece e se sente confiante com os procedimentos do avião e do voo antes de levar passageiros.

Certifique-se que as suas qualificações permitem o voo de passageiros e mesmo que estas o permitam, assegure-se pessoalmente que se sente já apto para os efectuar. Não é obrigatório que tenha de levar um passageiro no dia ou na hora em que teve a qualificação para passageiros. Não é a licença que faz o piloto, mas sim o piloto que faz a licença.

Tenha os seguros em dia, o Murphy não dorme.

Você é o comandante! Se entender que o dia, o avião ou você não estão em condições ideais para executar o voo, não voe. O seu passageiro irá certamente entender isso. Se não entender, então, mesmo assim não voe.

 

Leitura adicional:

AOPA Passenger Briefing Card

Video da AOPA sobre “Passenger Safety Briefing”

FAA General Aviation Passenger SAFETY Briefing

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Luis Malheiro. 05 de Outubro de 2015.